Anatomia
Na linguagem política, conhecia a expressão «mama» (mais ou menos sinónimo de «tacho»). Agora, foi introduzido o termo «colo». Creio que, pelo andar da carruagem, nesta campanha ainda alguém vai dizer «pichota». [P.M.]
Notas & Apontamentos. [Pedro Lomba, Pedro Mexia e Francisco José Viegas] foradomundo@oninet.pt
Na linguagem política, conhecia a expressão «mama» (mais ou menos sinónimo de «tacho»). Agora, foi introduzido o termo «colo». Creio que, pelo andar da carruagem, nesta campanha ainda alguém vai dizer «pichota». [P.M.]
Continua a decorrer a votação para as vinte melhores bandas portuguesas de sempre. Ainda ninguém mencionou uma banda sugerida pelo Pedro, os altamente provocadores Santa Maria Gasolina em teu Ventre, mas também ainda ninguém mencionou a banda com o meu nome favorito, os deliciosamente pueris Flávio com F de Folha. Mandem sugestões. O mail está lá em cima.
Num artigo de Augusto M. Seabra, leio uma informação que desconhecia:
"Peeping Tom" foi um escândalo em 1960, particularmente "à esquerda".
Acontece que Peeping Tom é um dos meus filmes favoritos.
Mas nunca me ocorreu que «a esquerda» não tivesse gostado do filme. Sei que o filme foi mal acolhido, mas por razões mais prosaicas, digamos «morais».
Mas, pensando bem, faz todo o sentido que o filme tenha sido escandaloso para alguma «esquerda» (alguma «esquerda» de 1960, em todo o caso). E faz todo o sentido que uma pessoa «de direita» como eu goste tanto do filme.
«Esquerda» e «direita» são sensibilidades. Não são apenas maneiras de votar no dia 20. [P.M.]
Segundo dados citados por Frei Bento Domingues no seu artigo do Público, «apenas cinco por cento dos jovens católicos praticantes segue a doutrina da Igreja em matéria sexual». Eu, que toda a vida me dei com «jovens católicos praticantes» (portugueses), não conheço cinco que sigam «a doutrina da Igreja em matéria sexual». Não é cinco por cento: é mesmo cinco. É caso para dizer que a Espanha continua cristianíssima. [P.M.]
Em A Gaivota, de Tchekov, sempre que o escritor ouve ou diz uma boa frase numa conversa, anota num caderninho para usar mais tarde numa peça. [P.M.]
Se a revolução sexual foi a introdução do sistema maioritário a duas voltas (com o eleito mais próximo do eleitor e a garantia da governabilidade), a prostituição é o círculo proporcional nacional (para corrigir os desvios do sistema e garantir a representatividade, isto é, a democracia). [P.M.]
Não gosto de Closer (o filme), porque não acrescenta nada a Closer (a peça), com excepção da fabulosa interpretação de Clive Owen.
Gosto muito de uma frase (muito citada), uma exclamação esfregada por Clive Owen na cara de Jude Law:
«You writer».
O insulto é merecido. O romancista interpretado por Jude Law vampiriza a namorada (Natalie Portman) como modelo para um romance. O romance fracassa. O namoro fracassa. Com o romance, Law conhece uma fotógrafa (Julia Roberts) com quem tem um caso. O caso fracassa.
You writer, diz Owen. E diz bem. Um escritor é um indivíduo muito sem vergonha. [P.M.]
Um espectador tem um ataque cardíaco. Param o filme. Grande tensão. Há algum médico na sala? Havia. Na sala estava (palavra de honra) um dos melhores cardiologistas portugueses. O espectador foi de imediato assistido e levado de ambulância.
Claro que o cardiologista estava lá por acaso. Digo isto sem ironia. Claro que o cardiologista estava lá por acaso. [P.M.]
De repente, Rua Garret acima, um fulano começa a correr desalmadamente. Atrás, desalmadamente aos berros, corre outro fulano, mais bem-posto. Este segundo grita: «agarra que é ladrão». Fica toda a gente naquela do agarro-não-agarro-não-custa-nada-não-é-nada-comigo. O ladrão ganha avanço e vira à esquerda. Direitinho ao Governo Civil. Lá estão dois polícias que finalmente o agarram. Até para ser ladrão é preciso saber geografia. [P.M.]
Paulo Barbosa, empresário de futebol e Doutorado em Ciências Sociais pela Universidade de Moscovo, deu uma entrevista ao Correio da Manhã. Diz que é de esquerda. E que Mourinho não tem razão quando se diz de direita. «Ele é de esquerda», garante Paulo Barbosa. «Como treinador é de esquerda porque revolucionar e transformar não são atributos da direita, para quem a prioridade é conservar.» Aí está outro eleitor com ideias claras, embora só com uma parte do cérebro a funcionar. [F.J.V.]
Eles tinham vindo de Lisboa passar o fim-de-semana no Alentejo. Comiam com apetite, falaram dos sobreiros da estrada de Sousel, ele mencionou a necessidade de ir ao estádio na próxima semana, ela disse que as migas de espargos eram muito boas. Tinham ainda aquele aspecto de quem tinha vivido coisas indecentes há muito pouco tempo. O frio polar é uma coisa enternecedora. [F.J.V.]
Os socialistas regressarem ao poder retomando as manias do governo de Guterres não é o que de pior nos poderia acontecer, mas pode aproximar-se de um cenário conhecido: aquele mundo beato, certinho, cheio de diálogo e de conivências nas direcções-gerais e altas esferas. Ganhem os socialistas ou não, teremos as ruas a festejar, as corporações gerais agradecidas por serem recebidas pelo novo governo, os pândegos da província ameaçando, os núcleos do partido a saltitar de alegria impossível. Podia ser pior, evidentemente. Podia ser aquela imagem dos santanistas de todo o mundo, unidos pelo gel no cabelo. Já agora, porque é que, quando queremos insultar os santanistas não falamos das suas ideias ou das suas propostas eleitorais, e mencionamos o gel no cabelo? [F.J.V.]
O problema do Inverno, no país, é que aguarda pelo Verão para poder adiar quase tudo. Por isso, eleições em Fevereiro não deixam de ser Carnaval. Pode uma pessoa abster-se de Inverno? [F.J.V.]
O meu primo lembrou-me na semana passada: «Quando éramos putos, não admitias que alguém dissesse mal da Nastassja Kinski».
É caso para dizer que mudei muito mas não mudei em tudo.
A minha actriz favorita, Nastassja Kinski, nasceu a 24 de Janeiro de 1961. Faz hoje 44 anos. [P.M.]
Estou absolutamente perplexo com o que alguma gente esclarecida tem escrito sobre a necessária «coerência» entre a moralidade privada e a ideologia política. Essa argumentação não dura dez minutos. Quase não existem pessoas coerentes na sua vida privada com os valores que (convictamente) defendem. Eu sou católico, e conheço bem o universo de hipocrisia que é o catolicismo. Mas também sou amigo de pessoas declaradamente progressistas, que me dizem e confessam toneladas de sentimentos e episódios nada progressistas. Eu próprio me considero conservador, e tenho escrito coisas francamente menos conservadoras que alguns blogues progressistas (para me ficar pelo escrito). A incoerência é normal, inevitável, e não tem mal nenhum. Ninguém é coerente. Excepto talvez uns monstrozinhos. Há com certeza casos flagrantes em que a hipocrisia tem interesse público (o televangelista que vai às putas), mas apenas porque os próprios se arrogam o direito de vigilantes da hipocrisia alheia e fazem disso uma arma política. Pela minha parte, sei que a moralidade privada é um território completamente à parte, mesmo porque raramente obedece (digamos assim) à mesma área do cérebro do que a ideologia. Quando começou o escândalo Casa Pia, começaram pessoas a «pôr as mãos no fogo» por outras pessoas. Escrevi na altura que não se pode «pôr a mão no fogo» por ninguém. Nós não conhecemos o que vai dentro da cabeça das pessoas. Não sabemos do que as pessoas gostam. Do que são capazes. Não sabemos sequer do que gostamos ou somos capazes. É muito engraçado ver pessoas (e pessoas supostamente progressistas) a fazerem discursos morais (e sexuais) com tudo metido em caixinhas muito estanques e muito arrumadas. Como se a moralidade (e a sexualidade) não fosse precisamente o lugar do caos, da incoerência, do fragmento, do que não sabemos, do que queremos saber, do fictício. Mais do que a luta política, o que me preocupa é essa mistificação que faz da moralidade e da sexualidade formas de transparência, quando na verdade são grandes zonas inóspitas e opacas sobre as quais apenas devemos falar por aproximações. Tanta certeza sobre coisas que não se sabem, tanto sumo pontífice «reaccionário» e «progressista». Gente imensamente «sã», «louçã», «saudável» e «normal». Que maravilha fatal. [P.M.]
Eu que detesto melodramas. Eu que não sabia que filme era este quando entrei na sala. Eu que raramente choro no cinema.
Non ti Muovere, de e com Sergio Castellito (e uma irreconhecível Penelope Cruz) foi uma grande grande surpresa.
A interpretação de Castellito é, para o meu gosto, a mais comovente desde Tom Wilkinson em In the Bedroom (2001).
- Deus há-de castigar-te.
- Deus não existe, meu amor.
- Esperemos que não.
(uma sugestão para o Rui, o mais italianófilo dos bloguistas) [P.M.]
Há um mês ou assim, anotei uma ideia para um post sobre «os filhos», na sequência de uma curiosa conversa com dois bloguistas que são pais de família.
Agora, acho que não vou publicar o post. É que eu «nunca gerei uma vida», pelo que evidentemente não tenho o direito de escrever sobre filhos.
Além disso, nunca realizei um filme, pelo que não tenho o direito de escrever sobre cinema. Além disso, nunca fui aos EUA, portanto não tenho o direito de pôr posts em americano. Além disso, nunca andei com uma topmodel, razão pela qual não tenho o direito de meter fotos da Kate Moss.
Além disso nunca (continua) [P.M.]
A política internacional explicada em termos sexuais:
We're dicks! We're reckless, arrogant, stupid dicks. And the Film Actors Guild are pussies. And Kim Jong Il is an asshole. Pussies don't like dicks because pussies get fucked by dicks. But dicks also fuck assholes. Assholes that just want to shit on everything. Pussies may think they can deal with assholes their way. But the only thing that can fuck a asshole is a dick, with some balls. The problem with dicks is they fuck too much or fuck when it isn't appropriate. And it takes a pussy to show them that. But sometimes pussies can be so full of shit that they become assholes themselves. Because pussies are a inch and half away from assholes. I don't know much about this crazy crazy world, but I do know this. If you don't let us fuck this asshole we're going to have our dicks and pussies all covered in shit.
(«Gary Johnston», uma das marionetas anarcas de Matt Stone e Trey Parker em Team America: World Police). [P.M.]
The House Carpenter's Daughter (2003), de Natalie Merchant. Um disco conservador (recupera a tradição oral). Um disco de esquerda (recupera a canção militante). Muito gosto eu de folqueroque. [P.M.]
G. diz: «Agora que temos 30 anos, as miúdas de 20 não nos ligam nenhuma».
Mas quando eu tinha 20 anos as raparigas de 20 também não me ligavam nenhuma.
É caso para dizer que estou a envelhecer bem. [P.M.]
A princípio achei graça: um ministro com o mesmo sobrenome. Pouco a pouco, fui ficando farto («não, não sou sobrinho», «não, não somos parentes»). Mas ontem foi realmente um exagero: recebo um telefonema de um jornal e só aos dois minutos de conversa (incompreensível) é que o jornalista percebeu que tinha ligado para «o outro» Mexia. [P.M.]
O líder da oposição (e favorito nas próximas eleições) disse, na resposta a um inquérito, que é favorável à proibição da pornografia. Está visto: querem mesmo acabar com o rendimento mínimo de subsistência. [P.M.]
O crítico americano Jonathan Rosenbaum chama ao cinema de Jacques Tati, com notável exactidão, um vaudeville geométrico. Nunca vimos um filme de Tati se não o tivermos visto muitas vezes. Agora, com o DVD, é ver e rever e rever. [P.M.]
Agustina Bessa-Luís, num texto para Eugénio de Andrade: Nunca trocámos cartas porque essa débil força de confidência esteve sempre para nós fora de moda. Nunca deixámos que as palavras nos dessem lições. [P.M.]
Muito gosto eu da expressão dead as disco. Aí está uma coisa que fica mesmo melhor em estado defunto.
Ou como disse Morrissey: The death of a disco dancer / Well, it happens a lot 'round here / And if you think Peace / Is a common goal / That goes to show / How little you know // The death of a disco dancer / Well, I'd rather not get involved / I never talk to my neighbour / I'd rather not get involved // Love, peace and harmony? / Love, peace and harmony? / Oh, very nice / Very nice / Very nice / Very nice / But maybe in the next world.
Aí está uma afirmação ideológica que eu subscrevo. [P.M.]
Com tantos políticos a prometerem coisas, alguém fez uma promessa que é mesmo para cumprir.
Clint Eastwood squinted like Dirty Harry Tuesday night as he took aim at Michael Moore.
"Michael Moore and I actually have a lot in common - we both appreciate living in a country where there's free expression," Eastwood told the star-dotted crowd attending the National Board of Review awards dinner at Tavern on the Green, where Eastwood picked up a Special Filmmaking Achievement prize for "Million Dollar Baby."
Then, the Republican-leaning actor/director advised the lefty filmmaker: "But, Michael, if you ever show up at my front door with a camera - I'll kill you."
The audience erupted in laughter, and Eastwood grinned dangerously.
"I mean it," he added, provoking more guffaws.
Abençoado. [P.M.]
Adenda: o meu estimado colega bloguista e benfiquista André Belo tomou este post literalmente, como se eu aprovasse o (suposto) mooricídio.
Foi um pouco mais papista do que o pontífice em questão. O artigo para o qual fiz link, depois de contar a «ameaça» de Clint Eastwood, continua:
Sitting well out of range at a table in back, Moore - who received a special "Freedom of Expression" award for his anti-Bush polemic "Fahrenheit 9/11" - chuckled.
E, mais à frente:
(...) Moore's rep told me yesterday: "Michael laughed along with everyone else, and took Mr. Eastwood's comments in the lighthearted spirit in which they were given.
Como se vê, a história não mete tiroteio. Apenas um brincadeira hollywoodesca em entrega de prémios. Clint a fazer de «Dirty Harry». E a conseguir umas gargalhadas fáceis (inclusive do visado).
Assim como assim, Eastwood sempre esclarece isto: não está esclerosado como Charlton Heston e não permitirá que a «primeira emenda» (como diz o André) faça demagogias à sua custa num «documentário» futuro. Daí o meu «abençoado».
Continua a votação para uma eleição nada científica das vinte melhores bandas portuguesas de sempre (estão excluídos, para efeitos práticos, os artistas a solo). A participação tem sido boa. O mail está lá em cima.
No metro, um frustrado sexual encosta-se a uma frustrada sexual (ou vice-versa), que lhe diz: «Muito obrigado pela parte que me toca». [P.M.]
A brasileira Camila Finn venceu a última edição do concurso Ford Supermodel of the World.
Camila tem 13 anos. Treze.
Depois queixem-se. [P.M.]
Agora que os Franz Ferdinand estão em todas as listas de revelações, os leitores da revista The List votaram as cinquenta melhores bandas escocesas de sempre.
1 Belle & Sebastian
2 Travis
3 Idlewild
4 Wet Wet Wet
5 Sensational Alex Harvey Band
6 Simple Minds
7 Teenage Fanclub
8 Bay City Rollers
9 Primal Scream
10 The Proclaimers
11 Texas
12 Mull Historical Society
13 Big Country
14 Snow Patrol
15 Franz Ferdinand
16 Bis
17 Deacon Blue
18 Fish
19 Jesus and Mary Chain
20 Mogwai
21 Runrig
22 Trash Can Sinatras
23 Del Amitri
24 Orange Juice
25 Nazareth
26 Beta Band
27 Biffy Clyro
28 Altered Images
29 Aztec Camera
30 Eddi Reader
31 Goodbye Mr Mackenzie
32 Fire Engines
33 Delgados
34 Arab Strap
35 Vaselines
36 Associates
37 The Pastels
38 Eurythmics
39 Aereogramme
40 Blue Nile
41 Boards of Canada
42 Rezillos
43 Incredible String Band
44 Cocteau Twins
45 Dogs Die in Hot Cars
46 Spare Snare
47 Average White Band
48 Lulu
49 Skids
50 Shamen
Não conheço cerca de metade. Das que conheço, as minhas favoritas são Belle & Sebastian, Primal Scream, Jesus and Mary Chain, Aztec Camera, Arab Strap e Vaselines.
Um desafio aos leitores: mandem sugestões sobre as (vá lá) vinte melhores bandas portuguesas de sempre. O nosso mail está lá em cima. [P.M.]
Em Barcelona, um dos primos está fascinado com a Bíblia, mas só a lê devidamente camuflada dentro de um exemplar da Economist. Podes experimentar, rapaz. [P.M.]
FRED: One thing that keeps cropping up is this about «subtext». Songs, novels, plays - they all have a subtext, which I take to mean a hidden message or import of some kind. So subtext we know. But what do you call the meaning that's right there on the surface, completely open & obvious? What do you call what's above the subtext?
TED: The text.
FRED: OK, that's right. But they never talk about that.
(Chris Eigeman e Taylor Nichols em Barcelona (1994), de Whit Stillman) [P.M.]
Donald Justice, que morreu o ano passado, é um dos meus poetas americanos favoritos. Em homenagem tardia, deixo este seu poema, «Men at Thirty», tão mas tão a propósito. [P.M.]
Thirty today, I saw
The trees flare briefly like
The candles upon a cake
As the sun went down the sky,
A momentary flash
Yet there was time to wish
Before the break light could die
If I had known what to wish
As once I must have known
Bending above the clean candlelit tablecloth
To blow them out with a breath
1) O nome do filme
2) A situação do filme
3) A actor e a actriz que entram no filme
4) A situação dos actores na cena
5) A cena
6) A situação
[P.M.]
Via Technorati descubro dois blogues que nunca tinha visitado.
O Margem de Erro, de Pedro Magalhães, que sugiro como entrada nos «favoritos» de todos os que se interessam pela vida política, nomeadamente pelos processos eleitorais. Com tanta sondagem e tanto disparate sobre sondagens, este blogue vai ser um bom antídoto. Além de que Pedro Magalhães é um dos poucos comentadores que comenta assuntos que realmente conhece (digo isto sabendo bem que faço parte desses outros, os generalistas de café). Saudações ao novo blogue, de Pedro Magalhães (Mexia) para Pedro Magalhães.
Pela primeira vez somos citados por um blogue espanhol. Ainda por cima um blogue que tem a canção Small Blue Thing da Suzanne Vega em destaque (uma fantástica canção sobre a paixão como fragilidade). La Campana de Cristal (The Bell Jarr, de Sylvia Plath) usa o mesmo template que o Fora do Mundo e citou um post em português. Saudações ibéricas (mas não iberistas). [P.M.]
Já ninguém liga muito a cenas de nu no cinema. Mesmo quando são corpos bonitos. A nudez é agora comum e por isso banal.
Mas, de vez em quando, surgem nus memoráveis apenas pela sua estranheza. Corpos pouco atraentes, envelhecidos ou filmados em situações bizarras. Os mais recentes que me ocorrem são:
- Kathy Bates em About Schmidt
- Charlotte Rampling em Swimming Pool
- Mimi Rogers em The Door on the Floor.
Bates é pavorosa, Rampling está numa situação estranha e Rogers continua cheia mas agora quase nos cinquenta.
Só no primeiro caso é que podemos dizer que se trata de um nu realmente inestético. Mas em todos (um pouco menos no de Mimi Rogers) a nudez não tem um efeito sexual.
É como nos filmes de Greenaway em que existe gente nua e mais gente nua: o efeito é que o corpo se torna apenas carne.
Por outro lado, Rivette pôs Emanuelle Béart nua durante minutos sem fim em La Belle Noiseuse. E conseguiu esse prodígio de nos fazer quase esquecer (quase) o lado sexual dessa actriz. Ao fim de vinte minutos, vira mera nudez de modelo (o seu papel no filme). Ou nudez de consultório médico. Um dado de facto, como estar vestido.
Então, não é o corpo bonito que importa. Não é a nudez. É o contexto.
Se bem que, em termos de nudez, o dinheiro nos leve mais longe do que a semiótica. [P.M.]
Segundo esta opinião original, eu na televisão pareço este senhor. Já é mais credível. [P.M.]
Segundo algumas opiniões benévolas, eu na televisão sou parecido com este senhor. [P.M.]
It depends on what your definition of «is» is (Bill Clinton). [P.M.]
Elaine: You know what your problem is? Your standards are too high.
Seinfeld: I went out with you.
Elaine: That's because my standards are too low.
[P.M.]
O “É a Cultura, Estúpido!” está de volta
Isso mesmo. O mais perigoso gang cultural está de regresso ao Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz. Ninguém mudou de clube. Ninguém mudou de opção política. Ninguém mudou de sexo. São exactamente os mesmos em campo, só que alguns jogarão em posições diferentes. Uma coisa os une: a vontade de falar do país da maneira em que o país está. Ou seja: de uma forma alegremente anárquica. Ah, e falar de cultura, claro. Desta vez é o Ricardo Araújo Pereira quem apresenta e, como sempre, faz o stand-up final. A Anabela Mota Ribeiro lança a discussão. O Daniel Oliveira, o João Miguel Tavares, o José Mário Silva, o Nuno Costa Santos e o Pedro Mexia fingem que têm uma agenda cultural interessante e vão também falar do que não andam a ler. A coordenação é de Nuno Artur Silva / Produções Fictícias. O tema desta primeira edição é o grande combate e / ou dialéctica “Cultura Popular vs Cultura Elitista”. O nosso convidado especial é o ensaísta e programador António Pinto Ribeiro a propósito do seu recente livro “ Abrigos – Condições das Cidades e Energia da Cultura”. O resto é convosco. No dia 12 de Janeiro, às 18h30.
Tutto il resto è già poesia, diz a canção. Mas isso é bom ou mau? O que quer dizer «poesia»? Mas, sobretudo, o que quer dizer «já»? [P.M.]
Eis um «sparring partner». O velho «saco de pancada».
Mas chamar a isto «partner» / «parceiro»? Que espécie de piada pós-moderna é essa?
(post cortesia de Paolo Conte e François Ozon)
[P.M.]
Os REM estão(com The Velvet Underground e The Smiths) na origem de quase toda a música pop/rock que me interessa.
Tenho os discos todos. Dois ou três livros. Uma série de recortes. E fui a ambos os concertos em palcos portugueses (o segundo anteontem).
O primeiro foi péssimo. Péssimo som, péssima coordenação, um elenco de canções discutível. Além disso, os Suede secaram os rapazes da Georgia que foi uma limpeza. O Brett Anderson ganhou vinte a zero.
Agora, de novo no Pavilhão Atlântico (bela sala mas monstruosamente grande), nova decepção. Por uma razão simples: quase só canções da última década (e do álbum recente, Around the Sun). Ora as canções da última década (e do álbum recente) são apenas razoáveis. Nunca más, mas raramente extraordinárias. Material suficiente, quando o material antigo era fantástico.
Assim, tema após tema de canções medianas produziriam sempre um espectáculo mediano. Além do mais, o excesso de electricidade afectava a subtileza melódica que sempre tornou os REM memoráveis. Por vezes, pairava mesmo um cheirinho a stadium rock. Ó inclemência, ó martírio.
E quando foram ao baú? Bem, uma banda que tem «The One I Love» e «Losing my Religion» tem abono de família. Eu não gosto, mesmo por razões biográficas, de «Everybody Hurts», mas admito que ouvimos uma interpretação com alguma força, embora um nadinha «antémica» (de «anthemic», o que parece um hino/«anthem»). Surpresas? «Permanent Vacation», de 1979, mostrando que a proto-história dos REM está numa espécie de punk animado. E «Finest Worksong», um dos temas vivaços a que os réme sempre regressam (como «Pop Song 89» ou «Shinny Happy People» ou «Imitation of Life»). Nada do outro mundo, como se vê. Uma única maravilha: «Begin the Begin». Dava os meus vinte e cinco euros só para ter ouvido essa, com a fabulosa virada de guitarra de Peter Buck.
Os REM, na minha modestíssima opinião, contribuíram com duas obras-primas para o cânone pop/rock: Out of Time (1991), que os celebrizou, e Murmur (1983), o álbum de estreia, a que apetece dar seis estrelas em cinco. Para mim, Automatic for The People (1992) é um passo atrás, embora tenha belos momentos. Depois disso, foi sempre a descer.
Sem os REM, a «guitar pop» não teria tido a mesma vitalidade e densidade. Chega e sobra para sermos gratos. E dois álbuns intocáveis, seis ou sete francamente bons, e quase nada abaixo de razoável. Mas os REM não têm mais nada para dizer ou fazer. A canção final do concerto, que Michael Stipe disse ter apenas umas semanas, parecia uma demo foleira dos Da Weasel. Era escusado.
Dois concertos, dois concertos maus. É azar. Mas ficam os discos. Se Lisboa não prestou, teremos sempre Athens. [P.M.]
Nunca ninguém se lembra de Judith Gódreche. Eu lembro, desde que a descobri deslumbrado no lindíssimo filme de Jacques Doillon La fille de Quinze Ans (1989). Recentemente, revimos Judith em L' Auberge Espagnole. Mas ela merece mais. Um Godard, no mínimo (tendo em conta que Botticelli não está disponível).
Judith Godreche nasceu no mesmo ano que eu (1972). Fico sempre meio piegas quando penso nela, como se fosse uma antiga namorada (mais suspension of disbelief que isto é difícil). Outro dia, ao fazer zapping, lá estava Judith, num programa qualquer francês, fabulosa, muito séria e muito grávida.
Sabem o que diz a canção do Rod Stewart, não sabem? [P.M.]
«Podes dizer a frase?»
«Posso fazer tudo o que quiseres. Menos dizer a frase». [P.M.]
Ao arrumar papéis do IRS encontro um impresso em que o meu estado civil vem definido assim: não casado.
Assim mesmo: não casado. Nunca tinha visto tal coisa. «Solteiro» é o normal. Mas «não casado»? Agora o Ministério das Finanças deu em minha avó? [P.M.]
Leio no jornal os nomes dos candidatos a deputados pelo círculo «da Europa» e pelo círculo «fora da Europa». Faltam, como é óbvio, os candidatos pelo círculo «fora do mundo». [P.M.]
Sou por vezes acusado do delito de namedropping. Mas eu sou uma notória vítima do namedropping. E na sua manifestação mais literal: nem imaginam as vezes que deixaram cair o meu nome. [P.M.]
O pai, amargurado, para a filha adolescente:
Se me deixares, ficarei pobre, ou uma palavra melhor que não existe.
Em Saraband, de Ingmar Bergman (na foto, com Erland Josephson). Estreia dia 13. [P.M.]
Quando fechamos a porta do carro, sabemos sempre quando fica «mal fechada». O som da porta mal fechada é diferente do som da porta bem fechada. Ouvimos e fechamos de novo (desta vez bem) a porta. E ouvimos o som evidente da porta bem fechada. Com as pessoas, raramente é assim. Raramente percebemos que a porta está mal fechada. O som da porta mal fechada não é evidente. Só muito mais tarde percebemos esse ruído impertinente. A porta ficou mal fechada. Mas agora queres fechar bem a porta ou abrir de novo a porta? [P.M.]
O filme Alfie (com o rapaz da foto) é uma chachada, um remake espúrio do estiloso e sórdido Alfie com Michael Caine. No entanto, Alfie tem duas frases que me marcaram. A primeira não é conveniente, fica apenas na minha cabeça. A segunda é igualmente forte mas mais citável. Jude Law, cansado de playboyices, arrisca o «comprometimento» com Susan Sarandon. Quando Jude Law aparece inopinadamente no apartamento, Sarandon fica visivelmente embaraçada. Jude então percebe que ela tem outro homem em casa (na banheira, mais precisamente). E pergunta, repetidamente, furiosamente: o que é que ele tem que eu não tenha? O que é que ele tem que eu não tenha? O que é que ele tem que eu não tenha? Parece que nenhuma resposta será capaz de o (e nos) convencer. Sarandon, derrotada, diz: «é mais novo do que tu». Impossível responder a isso. Jude sai de cena. [P.M.]
É o que peço sempre aos amigos, porque tenho uma memória péssima e repito uma e outra vez a mesma frase ou episódio.
E com a «mulher amada» (aspas, aspas)? Posso pedir o mesmo, mesmo depois de um elogio? [P.M.]
Na Bíblia existe sempre uma clara distinção entre «o corpo» e «a carne». [P.M.]
Repete a frase, como se fosse um rasgão no vestigo. Um rasgão que não estraga o vestido. Um rasgão que fizesse parte do vestido. [P.M.]
Fui aos saldos. Embora não acredite muito nos saldos. Eu estou em saldo há cinco anos e nem por isso tem aparecido mais freguesia. [P.M.]
Ano novo, vida nova? Que banalidade. Que treta. Ainda se fosse ano novo, Vita Nuova.
O voi che per la via d'Amor passate,
attendete e guardate
s'elli è dolore alcun, quanto 'l mio, grave;
e prego sol ch'audir mi sofferiate,
e poi imaginate
s'io son d'ogni tormento ostale e chiave.
Amor, non già per mia poca bontate,
ma per sua nobiltate,
mi pose in vita sì dolce e soave,
ch'io mi sentia dir dietro spesse fiate:
«Deo, per qual dignitate
così leggiadro questi lo core have?»
Or ho perduta tutta mia baldanza,
che si movea d'amoroso tesoro;
ond'io pover dimoro,
in guisa che di dir mi ven dottanza.
Sì che volendo far come coloro
che per vergogna celan lor mancanza,
di fuor mostro allegranza,
e dentro da lo core struggo e ploro.
Mas dessa estou eu a bom recato. [P.M.]