Nós, Europeus
O post aí abaixo leva a assinatura dos três foradomundistas embora não tenha as iniciais de nenhum. É o nosso segundo post colectivo. [F.J.V.]
Notas & Apontamentos. [Pedro Lomba, Pedro Mexia e Francisco José Viegas] foradomundo@oninet.pt
O post aí abaixo leva a assinatura dos três foradomundistas embora não tenha as iniciais de nenhum. É o nosso segundo post colectivo. [F.J.V.]
Oito parlamentos ratificaram a «Constituição Europeia». Ao segundo referendo, o NÃO venceu. Altura para tirar algumas conclusões dessa discrepância, para perceber que a Europa se constrói a passo e não a galope, para acabar com a chantagem de caminhos únicos e respostas únicas. Estamos gratos ao povo francês por esse contributo.
(...) the sun shines for you he said the day we were lying among the rhododendrons on Howth head in the grey tweed suit and his straw hat the day I got him to propose to me no like now no 16 years ago my God after that long kiss I near lost my breath no he said I was a flower of the mountains no so we are flowers all a womans body no that was one true thing he said in his life and the sun shines for you today no (...) I was a Flower of the mountains no when I put the rose in my hair like the Andalusian girls used or shall I wear a red no and how he kissed me under the Moorish wall and I thought well as well him as another and then I asked him with my eno to ask again no and then he asked me would I no to say no my mountain flower and first I put my arms around him and no and drew him down to me so he could feel my breasts all perfume no and his heart was going like mad and no I said no I will no.
Excerto do monólogo de Molly Bloom em Ulisses (1922), de James Joyce, com os «yes» transformados em «no». Domingo, em terras francesas, veremos se Molly tem razão. [P.M.]
Gato Fedorento, o blog (Cotovia), escrito por estes senhores, vai ser lançado amanhã, dia 28, às 21:30, na Feira do Livro de Lisboa. A colecção Textos da Blogosfera, depois de um mau começo, acolhe desta vez um blogue interessante. [P.M.]
António Costa Pinto e Rui Ramos são os convidados do É A CULTURA, ESTÚPIDO!, que vai ter lugar no próximo dia 24 de Maio (terça -feira), às 18.30h, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz. O debate deste mês é, como sempre, moderado pela jornalista Anabela Mota Ribeiro, e é inteiramente dedicado ao tema “Portugal Contemporâneo”, a partir do livro com o mesmo nome, coordenado por António Costa Pinto. Poderá também ouvir as escolhas dos críticos e jornalistas residentes: José Mário Silva, Pedro Mexia, João Miguel Tavares, Nuno Costa Santos e Pedro Lomba.
[NOTA: A sessão foi cancelada devido a um incêndio num edifício adjacente ao São Luiz. Oportunamente será anunciada nova data]
Onze anos depois, é tempo destes versos de recorte camoniano: SLB SLB SLB SLB GLORIOSO SLB GLORIOSO SLB (e agora, vou apitar) [P.M.]
Lá fiz o famoso Politest, um pouco a correr, mas deu o esperado: Vous vous situez au centre droit. Le parti dont vous êtes le plus proche : l'UDF. L'UDF est résolument pour la Constitution européenne. Le parti qui vient ensuite : l'UMP (tendance centriste) mais vous ne partagez pas la même opinion sur l'importance de la responsabilité personnelle des gens. Cette tendance de l'UMP est résolument pour la Constitution européenne.
Não percebi essa da «responsabilidade pessoal», mas no mais faz sentido. Apenas dois reparos: 1) sou pelo Não (ao contrário da UDF e da UMP). 2) não seria (militante) de um partido criado pelo escroque Chirac como o UMP (mas gosto de Sarkozy). [P.M.]
Todos aqueles que querem votar “não” e não se revêem no “não” do PCP e do BE à Constituição Europeia, de que estão á espera para organizar um movimento que explique as suas razões aos portugueses? (José Pacheco Pereira, no Sítio do Não)
É o meu caso: sou pelo Não mas discordo dos argumentos pelo Não mais conhecidos (à esquerda e à direita). Visitem e colaborem com o Sítio do Não. E, mais importante, com o movimento pelo Não. [P.M.]
Nas palavras de mestre Yoda: Break me a fucking give.
(adaptado de um texto de Antonhy Lane sobre Revenge of the Sith) [P.M.]
So this is permanence
Love shattered pride
What once was innocence
turned on its side
Ian Curtis, 15 Julho 1956 - 18 Maio 1980 [P.M.]
Por favor verifiquem a assinatura que encerra cada post, sobretudo quando escrevem mails sobre esse post. «PL» (Pedro Lomba) e «PM» (Pedro Mexia) são parecidos e tem havido algumas confusões.
O Bruno Cardoso Reis comenta dois posts meus sobre blogues. Não estamos substancialmente em desacordo, se tirarmos do caminho estes equívocos:
1) Nunca defini um «blogue ideal». Nem sei bem o que isso é. Apenas defini o tipo de blogues que me interessam. É um critério exclusivamente pessoal.
2) Eu não excluo a política da noção de mundividência. De modo nenhum. Apenas digo que se um blogue for exclusivamente político é menos pessoal. É uma observação de facto. Se eu souber as tuas opiniões políticas mas apenas essas, não sei muito sobre ti. Gostares de Javier Marias ou Jean-Luc Godard diz-me mais sobre ti do que saber em quem votas nas eleições.
3) Sobre os blogues aparentemente pessoais, subscrevo a tese do BCR: prefiro uma mundividência «um bocadinho trabalhada». [P.M]
Há casos em que «canonizamos» os autores de que gostamos. Não me refiro ao «São Genet» de Sartre (era uma provocação e um equívoco, e o próprio Genet não ligou peva). Não escasseiam reivindicações de santidade sobre, por exemplo, Dostoievski, Wittgenstein, Tchekhov ou Flannery O'Connor (para citar quatro dos meus autores). Esta «santidade» não é do estrito domínio religioso, embora O'Connor fosse uma católica devota e Dostoievski e Wittgenstein cristãos inquietos. Tem a ver com decência humana (haverá escritor mais decente que Tchekhov?) e com uma reconfiguração do sofrimento em conhecimento. Na pobreza, na doença, na solidão, no cárcere, estes quatro mostraram grandeza humana. E fizeram dessa grandeza matéria (torturada) de escrita. São por isso exemplos. Ou seja: santos. [P.M.]
Tenho os primeiros álbuns dos U2 e trauteio temas como «I Will Follow» com algum fervor. Mas isso pertence aos anos 80. Entretanto, qualquer pessoa com critério reconhece que os irlandeses perderam interesse. Alguns críticos dizem que o grupo é potável até The Joshua Tree (1987) [inclusive], U2 versão guitarras, não particularmente sofisticados (eram mesmo um bocadito bimbos) mas com grandes canções inquietas (no campo político e religioso). Eu vou até Achtung Baby (1991), não apenas porque gosto genuinamente do álbum mas porque conheço poucos casos de bandas que tenham arriscado reinventar com sucesso o seu som (neste caso para mais agressivo, dançável e electrónico). Mas depois disso desliguei. Sobretudo desde que Bono é Secretário-Geral da ONU. Já não há paciência. [P.M.]
Apenas duas linha para me acusar. Talvez fosse «piroso» mas eu vi este filme quatro vezes e não foi na televisão, fui mesmo admirá-lo ao cinema. Ainda hoje memorizo a maioria das suas cenas sobretudo aquela em que as cuecas caem pelas pernas abaixo daquela maravilhosa mulher quando ela leva pela primeira vez o adolescente para a cama. Como fiquei igualmente triste quando no dia seguinte ele regressa a casa dela e ela já partira deixando-lhe apenas uma carta. Foi como se eu fosse aquele adolescente. O verão acabara. (Rogério Borges)
A banda sonora foi composta pelo Michel Legrand, o mesmo do Les Parapluies de Cherbourg e do primeiro Thomas Crown Affair. Tenho uma versão do saxofonista Barney Wilen (que tocou no Ascenseur pour l'Échaffaud do Miles Davis ) no álbum French Ballads, sob o nome Un Été 42. (Fernando Guerreiro Martins )
Nobel da literatura para Leonard Cohen? Parece-me muito bem, mas acho que já é tempo de o Nobel das letras ir para alguém que tenha conseguido fazer literatura com o jornalismo. Por exemplo, Ryszard Kapuscinski.[P.L.]
(...) Neste aspecto, a «blogosfera» aproxima-se da ficção romanesca. O blogueador não tem que existir para que o blogue exista: não precisa de identidade civil, nem de domicílio fixo, nem de número fiscal ou cartão de eleitor. Pode ser uma agremiação, um morto ou um fantasma (...). Nada admira por isso que os blogues proliferem. Dir-se-ia cumprirem a promessa moderna de fazer de cada leitor um autor. (...) Há neles uma liberdade de linguagem que não se encontra em nenhum jornal; uma diversidade de assuntos impensável numa revista; sobretudo um privilégio do humor incompatível com a pose sisuda de quem é lembrado da existência de accionistas e anunciantes. Por outro lado, topa-se a cada passo com trivialidades, ingenuidades, descobertas da pólvora; exibicionismo infantil; artistas da palermice; muita vidinha graduada em experiência, muita opinião mascarada de argumento. (...) O modelo óbvio de configuração formal é o diário, íntimo ou intelectual, mundano ou cultural, tornando-se em sentido preciso um jornal: dia a dia, cada nova entrada sucedendo às anteriores, mas caducando-as. Com o blogue, podemos ler um diário precisamente à medida em que se escreve: mas isso mesmo lhe retira logo o carácter reservado e, sobretudo, o impede de se reconfigurar como um todo, ou seja, nega-lhe a constituição em livro, afinal inerente ao diário. A incompatibilidade do blogue com a forma reduz-se à incompatibilidade com o livro: outro traço necessário da descrição da sua razão de ser, ou outra forma de situar o blogue no processo das técnicas de reprodução. (...)
Abel Barros Baptista, «Louvor e Simplificação dos Blogues», ensaio publicado na revista LER [P.M.]
Num episódio de All in the Family, Michael confronta Archie com a pergunta clássica: se Deus existe porque é que o mundo é tão mau? Archie não sabe responder e pede ajuda a Edith, que tem esta tirada: «é para quando formos para o paraíso darmos pela diferença». [P.M.]
Peço sempre assim: «uma água fresca». Algumas vezes o empregado diz para o balcão: «é uma água fria». Uma vez sem exemplo pedi «uma água fria». O empregado disse para o balcão: ««é uma água fresca».
Peço sempre assim: «um café». E muitas vezes o empregado pede para o balcão: «uma bica». Numa ocasião tentei: «era uma bica». O empregado disse para o colega: «é um café». [P.M.]
Para completar a nossa aula de latim, uma leitora esclarece que se «vagina» é «baínha» (ou «saco»), «penis» é «caule». A gerência não se responsabiliza por eventuais trocadilhos. [P.M.]
Percebo perfeitamente esse teu post, e também eu me deixei tocar muito por esse filme (o uso da palavra «tocar» na frase anterior pode ser polémico, atenta a minha idade e o correspondente estádio sexual em que me encontrava quando o filme me... tocou). Não me lembrava era do nome da obra. E até hoje só me lembro da cena nocturna em que o rapazito é acolhido pela senhora, ao som de uma música, que me persegue ainda hoje, e das ondas do mar (isto se a memória/imaginação não me atraiçoa). Qual é a música? Pa pa pa pa... pa pa pa pa. Como é que é? (José Pinto Carneiro)
Não me recordo que idade tinha, mas foi, definitivamente, o filme que me introduziu na adolescência, que me revelou a natureza romântica da sexualidade, por contraposição à função física, talvez porque esse paradoxo se revelava ali, naquelas personagens, pela primeira vez. (Hugo Rosa Ferreira)
Foi um funeral breve, burocrático, de circunstância. Não se bateram palmas. Não houve exéquias ou elogios fúnebres. O padre foi o primeiro a sair e sem que ninguém percebesse. Compareceram poucas pessoas, porque o morto conhecia poucas pessoas. No cemitério, caminhávamos olhando para as gavetas e para os jazigos onde víamos nomes mas não os nossos. Fomos para o cinema quando tudo acabou.[P.L.]
Keira Knightley, nascida em (parece mentira) 1985. Actualmente em cartaz nas salas portugueses com The Jacket / Colete de Forças.
Keira Knightley, estudante, solteira e descomprometida, vive em Londres num apartamento que partilha com seis amigas. Um bilhete baratucho para Londres custa €75 na British Arways. Depois estão por vossa conta. Honrem a pátria, rapazes. [P.M.]
Hermie (Gary Grimes), um adolescente, vive fascinado com a lindíssima Dorothy (Jennifer O'Neill), sua vizinha mais velha numa vila costeira. O marido de Dorothy está na guerra, e por isso Hermie tenta seduzir a vizinha com atenções desajeitadas, recebendo dela uma simpatia sem ambiguidades. Mas quando o marido de Dorothy morre em combate, esta, solene e tristíssima, concede a Hermie uma primeira (e última) noite. [P.M.]
Eu sei, eu sei: é um cartaz muito foleiro. Mas o muvie se calhar também é muito foleiro. Não juro coisa nenhuma. Nunca mais revi Summer of '42 (1971), de Robert Mulligan, mas das duas ou três vezes que o vi (na tv) quando era adolescente, chorei saliva convulsiva e muco nasal. Foi, durante anos, o meu filme de eleição sobre a adolescência (e a sexualidade). Haverá entre o distinto leitorado alguém que tenha visto Summer of '42 e guarde memórias adolescentes, ou que o tenha visto recentemente e queira partilhar a opinião? O mail está aqui em cima. [P.M.]
Alguém num blogue me chamou «agostiniano». Admito: sou mesmo agostiniano. E também agustiniano. E não digam que é um jogo de palavras. [P.M.]
A banda de Ben Harper tinha um baterista novo. Numa entrevista, um jornalista perguntou se o novo baterista era preto. Ben Harper respondeu: «Não sei. Nunca lhe perguntei». [P.M.]
N. diz que as amizades têm um prazo de validade, e que por vezes encontramos um indício de que esse prazo chegou ao seu termo. É preciso então agir? Ou a amizade morre por si mesma? E devemos perder uma amizade por causa de uma teoria da amizade? [P.M.]
Prezo muito a amizade, mas a palavra «amigos» sempre me provocou uns certos calafrios. Suponho que é porque ouvi demasiadas vezes a frase «vamos ser só amigos». [P.M.]
« (...) um pouco de teatro e uma certa burrice, mas vou-me divertindo» (de um sms). [P.M.]
« (...) crer em Deus e na Psicanálise, não sendo impossível, é como ir às putas levando a mulher» (de um mail). [P.M.]
Acabei o texto. Estava péssimo. Mudei de fonte (de Garamond para Palatino). Ficou muito melhor. Mudei de novo de fonte (de Palatino para Times New Roman). Ficou péssimo. Mudei de novo (de Times New Roman para Verdana). Ficou muito melhor. Mudei de fonte. Ficou péssimo. [P.M.]
Na carruagem de metro, uma rapariguinha apetitosa e sentada remexe as pernas. O homem pensa que é uma provocação: ela de cueca à mostra, armada em puta. O homem fica por isso surpreendido quando a rapariga se levanta e lhe oferece o lugar. Mas, pensa, é normal que proceda assim com um cavalheiro entradote. (cena do romance Sem Nome, de Helder Macedo) [P.M.]
A componente pessoal ou subjectiva de um texto não implica de modo algum a transparência, como aqui escrevi muitas vezes. No blogue Blue Everest (que descobri via Technorati), escreve João Camilo:
Os blogues, como tudo o que é escrita e fala, têm «narradores», que são os responsáveis pela linguagem (ou pelas fotografias ou desenhos) que criam o blogue. Por detrás desses «narradores» tem forçosamente de estar um(a) autor(a). Mas por muito confessional ou apenas sincera que pareça ser a linguagem de um blogue, nada permitirá nunca provar que o que nele é escrito corresponde a alguma verdade ou sinceridade de algum autor real, dessa pessoa com quem podíamos tomar um café ou falar de futebol. Nos blogues como nos livros, tudo é ficção, tudo é literatura. E como mesmo à mesa do café nada nos garante a sinceridade do «autor real» (que até pode ser incapaz de ser sincero; ou não acreditar que o «eu» coerente exista) tem de concluir-se que na ficção como na vida real tudo é ao mesmo tempo verdade e mentira, tudo não passa de encenação. Wayne Booth já tinha resolvido este problema há muito tempo, em The Rhetoric of Fiction, ao distinguir o «autor real» do «autor implícito» e do «narrador».(...) Podia também recordar-se a conhecida frase francesa segundo a qual «le style c'est l'homme», com a condição de se lhe acrescentar o prolongamento de Lacan: «l'homme à qui l'on s'adresse». Conscientemente ou não, os blogues procuram o seu público, assumem-se como visão do mundo, desejam e esperam criar cumplicidades - e deixam entrever um projecto, aspirações identificáveis, nalguns casos tiques de classe e tomadas de posição corporatistas. Reduzir o «autor real» do blogue ao seu blogue, porém, seria acreditar numa transparência e na fidelidade de uma transposição que não existem. Embora o «autor real» acabe sempre por sofrer as consequências do «trabalho» do seu «narrador», de nada lhe servindo protestar que só tem com ele a relação insegura que liga o patrão a um empregado, o actor a um papel que vai representar.
São dois aspectos complementares: o elogio da subjectividade e a explicitação do carácter ficcional de toda a escrita. Mas estes aspectos são complementares e não opostos apenas na escrita literária ou na escrita que se pretende como tal. É por isso que os blogues podem ser também teoria da literatura. [P.M.]
É preciso imaginar Sísifo feliz, propunha Camus. Sou naturalmente mais modesto: apenas proponho que se imagine Narciso infeliz. [P.M.]
Mulheres que são uma canseira nos primeiros assaltos e um apocalipse dentro das muralhas. [P.M.]
A namorada conversa com a ex-namorada. Em vez de descobrir por si mesma que o rapaz não presta. [P.M.]
Quando compuseram um tema abertamente sexual, «Oscillate Wildly», os Smiths optaram por um instrumental. [P.M.]
Sausurre? Nada disso. Julgando pelos retratos, o grande expoente da semiótica é Camões. [P.M.]
Há coisas que me apoquentam no Latim. Que «parva» seja «pequena». Que «nunc» seja «agora». [P.M.]
Acho que perdi qualquer hipótese de vir a ser de esquerda ainda na escola primária. Foi quando me ensinaram que o homem é um animal. [P.M.]
D. ficou furiosa porque descobriu que determinado artigo de jornal sobre sexualidade não passava de uma treta pegada. Argumentei que a sexologia tem mais ou menos o mesmo valor que a astrologia. Há em ambas algumas indicações rigorosas (ali é Sirius, acolá é o clitóris), mas a partir daí é tudo extrapolação. [P.M.]
Se, como se interroga McEwan, o amor é uma ilusão teórica (uma ideologia, dizem outros), então tem o mesmo valor potencial da religião. Claro que, para mim, a religião não é uma ilusão (nisso discordo do bom doutor), mas admito que teria valor mesmo que fosse uma ilusão. Até Voltaire escreveu isso: que era um fundamento errado que podia levar a acções boas. Não é preciso que o amor exista, assim como não é preciso que Deus exista. Basta que a crença no amor (e em Deus) tenha significado, dê sentido, tenha efeitos. [P.M.]
Alguém que gosta das coisas de que eu gosto devia gostar de psicanálise. É o que sempre me dizem. Mas eu gosto de psicanálise. Eu só não acredito na psicanálise. [P.M.]
Saio do cinema e mando um sms igual a dois amigos, um sportinguista e outro benfiquista, a perguntar como ficou o jogo do Sporting. Um responde: «Ganhámos 1-0». Outro responde: «Ganhou 1-0». E ainda dizem que a identidade é sobrevalorizada. [P.M.]
Como seria de esperar, Enduring Love quase dá cabo do romance de Ian McEwan, preferindo o pitoresco (o incansável stalker, com componente homo-erótica e tudo) ao substancial (o sentimento indefinido de culpabilidade, o amor como ilusão teórica). Enduring Love (o livro) é um romance de ideias. Enduring Love (o filme) não tem grande ideia do que fazer com tantas ideias. Tem uma bela cena inicial (o acidente de balão), tem Daniel Craig (um actor a ter em conta), tem vaguíssimos laivos de Blow-up, mas acaba por falhar redondamente, como um balão a desinchar. Parece que o realizador não percebeu a ambiguidade essencial de «enduring»: é um adjectivo ou um verbo? [P.M.]
Uma opinião contrária: Philip Larkin, em «This Be the Verse»:
Man hands on misery to man.
It deepens like a coastal shelf.
Get out as early as you can,
And don't have any kids yourself.
Foi o que ele fez. [P.M.]
O que sobra de quem não tem filhos? O prazer? O egotismo? Duram dez minutos. A obra? A «posteridade»? Belos enganos. Há os génios, claro, mas esses não contam para a regra. De quem não tem filhos não sobra realmente nada. [P.M.]
C. dizia a J. que não ligava demasiada importância ao que fazia porque tinha uma filha e era a filha que tinha importância e que lhe garantia alguma espécie de sobrevivência. J., pai de vários filhos, concordava com a cabeça, comovido e triste. Eu, claro, escondi a cara na imperial. [P.M.]
As pessoas não se dividem apenas pela ideologia ou pela classe ou por outros acidentes. Cada vez mais me convenço que a grande diferença está entre quem tem filhos e quem não tem filhos. [P.M.]
Gosto muito de viver numa cidade porque gosto muito de ver sem ser visto. Mas também me acontece, por causa da fotografia no jornal e outros aborrecimentos, ser visto sem ver. Ainda agora, li num blogue (que não conhecia) uma referência a «P.M., que vota no Liceu Camões, como eu». Não tem nada de mal, é um reconhecimento simpático, mas tem sempre algo de embaraçoso para quem, como eu, gosta de andar pela cidade como se fosse o homem invisível. [P.M.]
O meu post sobre o Abrupto gerou algumas reacções na blogosfera. Gostava de destacar duas.
Mas faço um ponto prévio: tenho consideração intelectual por José Pacheco Pereira, leio os seus artigos e os seus livros. Porém, não gosto do seu blogue. A coisa é tão simples como isto: eu, fulano de tal, não gosto do Abrupto. É uma pura opinião, que não prova nada nem representa nenhuma corrente. O post apenas procurava explicar porque não aprecio um blogue de um autor que, nos outros textos, geralmente estimo. É lamentável que a opinião postiva sobre o Abrupto seja vista como «servilismo» e «graxismo» e que a opinião negativa se veja reduzida ao «rancor» e a uma incontida «inveja». Acrescento que sou sensível à «visibilidade» que o Abrupto deu à blogosfera, e que esse é para mim o grande mérito do blogue.
Retomo então duas críticas ao meu texto, porque tocam temas que me interessam muitíssimo. O tema da subjectividade e o tema da escrita diarística.
O Ma-Schamba fica surpreendido com a minha aproximação entre blogues e diários. Mas eu não disse nada de original ou ousado nessa matéria. Os blogues são diários porque isso está inscrito no seu próprio nome (web log) e sobretudo porque têm uma estrutura (datada e com tema livre) que se aproxima mais da notação diarística de que do artigo ou do ensaio. Se existe um mecanismo que permite que cada um escreva sobre o que entender, sempre que entender, com o registo que entender e sem preocupações de protocolos, então parece que o que conhecemos como «diário» é o que mais se aproxima do blogue. É certo que o José Pimentel Teixeira faz uma distinção entre «diário» e «diário de bordo»: mas, salvo maior desenvolvimento conceptual, não me parece uma distinção especialmente produtiva. Com a excepção dos diários íntimos, que não se destinam a publicação, os diários têm alguns traços comuns, e os blogues reproduzem esses traços.
Claro que há blogues de ensaio, de ficção, de poesia, de fotografia, e que alguns funcionam como uma espécie de jornal de parede, com artigos sucessivos. Mas isso não tem nada de específico. A especificidade do blogue é a possibilidade de ter online um registo permanente sobre cinema, arquitectura, política, o que cada um quiser, e predominantemente com um tom pessoal e um tamanho breve. Esse é o cunho do diário. A aproximação é evidente. Não vale para todos os blogues, mas vale claramente para a grande maioria.
Segunda crítica: o Tulius lembra que Pacheco é de outra geração, que é uma figura pública, que tem um estilo «ortodoxo,cerebral e frio» e que, por isso, não pode jogar «com as mesmas regras que a arraia-miúda». Isto (tirando a última frase) é incontestável. Mas o Tulius treslê quando se refere, uma vez mais, à «confessionalidade» (que segundo ele é excessiva na blogosfera). A objecção parte de um entendimento erróneo do diário (e do blogue). O bloguista vê no género diarístico uma confissão íntima. Mas muitos diários, nomeadamente literários, estão longe de qualquer intimidade. Para cada Pavese (intimista) há muitos Jünger (olímpico). Os diários são muitas vezes apenas cadernos de impressões e ideias, agendas desenvolvidas, comentários dispersos. Só praticamente os diários póstumos é que têm uma componente íntima. Assim como se confunde subjectividade com confessionalidade (um equívoco que muito me aborrece), também se toma o registo diarístico como um exposição sem entraves dos aspectos mais pessoais da vida de cada um. Claro que um blogue não é um diário literário, mas transporta traços evidentes desse género. E é essencialmente como diário que o blogue me interessa.
Ninguém exige pormenores sobre assuntos privados, nem a conhecidos nem a desconhecidos. Mais: ninguém exige coisa nenhuma. Apenas escrevi que gosto de blogues que reflictam uma personalidade (como, entre outros, A Causa Foi Modificada, Bomba Inteligente, Educação Sentimental, Rua da Judiaria, Tue Lies, Voz do Deserto).
Mas, repito, não me interessa conhecer a vida privada dos bloguistas. Apenas a sua mundividência. Em dois anos de blogosfera, tenho escrito posts pessoalíssimos, mas não discorro sobre assuntos concretos que só me dizem respeito a mim. Ou, se o faço, é de forma tão alusiva que mesmo as pessoas a quem o post diz respeito geralmente não percebem (quanto mais os terceiros). O pessoal não é sinónimo do privado.
Gostava de sublinhar, com marcador fosforescente, isto: cada um escreve o que quiser no seu blogue. Mas eu, sublinhem também, gosto de quem escreve de modo a que se note uma personalidade, porque é isso que me interessa na escrita (de blogues, de jornais, de literatura). Não sou de todo um presencista, mas aceito essa doutrina de Régio: a escrita vale pela afirmação de uma personalidade. Uma personalidade que, como tenho escrito vezes sem conta, é uma instância sobretudo textual, que pode não ter nada a ver com a pessoa civil.
Se quiserem, a principal diferença está nisto: eu tenho interesse nos blogues como género literário. Leio os blogues políticos, os blogues académicos, mas esses textos apenas prolongam outros textos, semelhantes, que conheço na imprensa e em ensaios. Enquanto que o blogue como diário representa, no espaço público, um género muito escasso (mesmo na literatura, não há assim tantos diaristas publicados, e creio que só tivemos um diário de primeira água, o de Torga).
A subjectividade (a minha mais veemente bíblia) é o contrário de uma lei. Eu tenho uma determinada maneira de ver o mundo. E para essa maneira de ver o mundo determinado blogue (por exemplo o Abrupto) não tem interesse. Isso não significa que o Abrupto seja objectivamente desinteressante. Se é muito mais conhecido e estimado do que quase todos os outros blogues (incluindo este), significa que há muitas pessoas que o apreciam. Estão no seu direito. Têm as suas razões. Simplesmente, esse não é o meu caso. Mas não quero convencer ninguém disso. [P.M.]
1945 não pode fazer esquecer actos discutíveis, evitáveis, condenáveis ou mesmo criminosos do lado Aliado (Nuremberga, Dresden, Ialta, Katyn, Hiroshima). Nem fazer esquecer que, para meia Europa, o fim da guerra não representou a liberdade mas apenas uma mudança de tirania. Nesse sentido, celebrar 1945 é também lembrar 1989, a segunda libertação da Europa. Se o «projecto europeu» tem algum sentido, o seu sentido está nisto: garantir que nunca mais teremos no poder os fanáticos da «classe» e da «raça». [P.M.]
Por este andar, Marques Mendes vai transformar um partido Carla Matadinho num partido Monica Bellucci. [P.M.]
É o mais amargo provérbio português: «Os inimigos dos meus inimigos meus amigos são». Amargo e errado. Que eu saiba, não sou amigo de nenhum inimigo de um inimigo. Desde logo, porque não ligo nenhuma aos meus inimigos (que são uns tantos). E depois porque construir uma amizade em torno de uma inimizade é um logro perigoso. A amizade é encontrar alguma coisa em comum, e a inimizade não põe nada em comum. [P.M.]
Embora goste dos textos de Pacheco Pereira na imprensa, confesso que nunca apreciei particularmente o Abrupto. Existe uma sobranceria intelectual em Pacheco que me incomoda. Um resquício de «superioridade moral» que me assusta. E uma indisponibilidade para a contradição (isto é, para a complexidade) que me desanima.
Se lermos os posts que Pacheco Pereira escreveu para o segundo aniversário do Abrupto, vemos como o blogue serve um projecto essencialmente egotista e afastado do pretenso carácter olímpico da página. Explico: não me incomoda que Pacheco procure a citação e aspire a uma posição de «intelectual dominante». Mas o que Pacheco vê como um mérito (escrever para fora da blogosfera) é sobretudo um demérito. Um cansativo exemplo: a guerrilha política, apontada sempre às páginas das citações dos jornais e jogando com o estatuto muito equívoco de «consciência crítica». Como se cada post desse pontos.
A blogosfera serve para o que cada bloguista pretende e ninguém tem nada com isso. Mas, para o meu gosto, o blogue de Pacheco é excessivamente (como se diz em Hollywood), um veículo para Pacheco, a sua urinadela territorial sobre o terreno das ideias.
Desculpem se sou previsível, mas detecto em Pacheco vestígios da ética esquerdista em que se formou. Vestígios que me parecem preocupantes. A suposta impessoalidade, por exemplo (v. mais adiante). Uma altivez sobre as «agendas» dos outros e um silêncio comprometedor sobre a agenda própria. Uma análise da retórica alheia como se o próprio tivesse apenas substância e não usasse truques como toda a gente. Um certo desprezo que consiste em meter as pessoas em grupos e não as considerar como indivíduos.
Além disso, Pacheco faz demasiadas vezes do seu caso uma regra. Por exemplo: percebo que Pacheco não se sinta realmente «de direita», porque veio da extrema-esquerda, porque lhe ficaram memórias geracionais e porque toda a direita ainda lhe cheira de algum modo a salazarismo. Mas lá porque uma pessoa se sente fora dessa espartilhante dicotomia, isso não torna a dicotomia imprestável. Pacheco detesta os Boaventuras e os Menezes, e não pretende ser confundido com nenhum dos dois. Mas toda a gente está nalgum lado, e Pacheco mostrou onde está nos últimos dois anos, sobretudo em matéria internacional (sou insuspeito, porque estive e estou do mesmo lado que ele). A recusa impaciente dessa oposição, como se «esquerda» e «direita» fossem jogos para meninos malcriados, tem traços de confusionismo e do paternalismo. E de uma anulação do carácter identitário (fundamental em política). Essa recusa, sobretudo quando se transforma em tese para governo dos outros, remete mais para a psicanálise política do que para a discussão intelectual.
A própria existência de um «rosto humano» enfraquece o discurso de Pacheco, em vez de o fortalecer. O bloguista vai acumulando quadros, poemas, astronomia e frontispícios, mas é tão seco como um catálogo pornográfico, como se essa listagem cultural, apenas mostrada e raramente reflectida, provasse alguma coisa sobre a personalidade. Ora, com algumas óbvias e meritórias excepções (memorialísticas ou cosmopolitas), o Abrupto representa a recusa da personalidade. Não que Pacheco oculte as suas características pessoais, porque elas necessariamente perpassam em cada texto. Mas o Abrupto cria uma ficção do homem inteiramente público, do homem racional e desapaixonado, como se Pacheco não albergasse, como nós todos, traumas e rancores (visíveis a olho nu, de resto).
Um artigo de jornal é uma intervenção no espaço público. Mas um blogue não é um artigo de jornal. E Pacheco raramente (com as excepções mencionadas) faz do blogue um diário, que é o que um blogue sobretudo é. O Abrupto, mais que um blogue, é a homepage de Pacheco. E vive da quase total rasura do que é pessoal. O meu ponto de viragem aconteceu com este post, que na altura transcrevi (sem data) para um documento:
Há tanta coisa interessante, há tanta coisa para aprender, como é que nos podemos aborrecer, como é que nos podemos fartar?
Claro que há tanta coisa interessante, mas é lá fora. LÁ FORA. Mesmo quando a trazemos para dentro é LÁ FORA. Mesmo quando é em nós que essas coisas estão, é LÁ FORA, longe da pegajosa circularidade do eu. Como é que alguém se farta em dois meses, numas férias, em meio ano, em tudo que seja menos de uma vida inteira, não de escrever aqui, porque isso é o menos, é circunstância, mas de ter a cabeça LÁ FORA?
O que me impressiona neste texto não é a recusa do discurso autobiográfico, o qual não é exigível a ninguém. O que me choca é que, para Pacheco, um web log, sucessor civilizacional dos diários, deve combater o eu, ou melhor, essa «pegajosa circularidade do eu», como lhe chama. Leio esta expressão e penso logo num burocrata comunista que censura um texto de um romancista ou de um poeta. Que lhe aponta o «formalismo» e o «umbiguismo», e que lhe critica o carácter «alienante» e «escapista» das meras preocupações pessoais. É certo que Pacheco não pretende censurar ninguém: mas usa o mesmo tom de indignação moral perante a subjectividade comezinha ou metafísica.
Não é preciso ser crente (como eu sou) para dizer, com veemência, que o mais importante não se passa LÁ FORA (sic) mas cá dentro. Que as paixões, ironias, tragédias, indecisões e medos são o mais importante. O mais importante não é o espaço público habermasiano. É o que se passa cá dentro. E não é com um simulacro desse cá dentro (os poemas e os quadros) que se elimina essa decisiva distinção. Existem combates políticos decisivos e discussões intelectuais estimulantes? Certamente. Mas há uma dimensão frágil do que é humano que me fascina quando leio um blogue e que me afasta da leitura do bloguista Pacheco.
Repito: tenho consideração intelectual por Pacheco Pereira. Sou leitor atento dos seus textos na imprensa. E considero que, mesmo na blogosfera, cada um escreve com o estilo e os objectivos que bem entende. Mas, para o meu gosto, o Abrupto é demasiado pessoal para ser um bom blogue político e demasiado político para ser um bom blogue pessoal. [P.M.]
Sobre esta nova folk que agora apareceu não posso opinar porque ouvi pouquíssimo. Digo apenas que em geral gosto de depressivos, mas (cito o Nuno Galopim) de depressivos que não sejam choninhas. E suspeito que estes folks são depressivos um bocado choninhas. [P.M.]
Numa livraria, procuro um exemplar do Fora do Mundo na estante dos portugueses. O telefone toca. «Onde estás?», perguntam. Respondo: «Estou entre o Pedro Rosa Mendes e o José Rodrigues Miguéis».[P.M.]
Estupendo artigo de Paul Berman sobre Daniel Bell no último número da Bookforum. Testemunho importante sobre a revolta e a cegueira ideológica por um semiconvertido que não se tornou uma caricatura. [P.M.]
Como lisboeta e como conservador estou contente com a vitória do Sporting e de Tony Blair. [P.M.]
Ler o que os outros escrevem sobre nós é sempre muito engraçado. Em mails e blogues tenho registado epítetos magníficos. Geralmente as críticas e os ataques zangados são os que demonstram maior imaginação verbal (não me esqueço do excelente «cartilaginoso dondoca»). Mas por vezes os elogios também trazem pepitas, especialmente os elogios desmesurados e estapafúrdios. Em mails recentes, um leitor escreveu que me considerava um importante «pensador» e uma leitora detectou em mim um tipo «glamouroso». São ou não são grandes achados? É que, como «pensador», eu estou ao nível de um Jorge Gabriel. E em termos de «glamour», estou no patamar Sottomayor Cardia. Mas obrigado, lépidos leitores, pelo comic relief. [P.M.]
These fragments I have shored against my ruins
T. S. Eliot,The Waste Land [P.M.]
Sou cada vez mais (mais e mais e mais) um individualista. Mas isso não significa que seja um defensor do individualismo. O individualismo é uma ideologia, e eu sou individualista por disposição. O individualismo é uma prescrição, e eu sou individualista por vocação. O individualismo é assim por optismo, e eu sou individualista por pessimismo. O individualismo é uma forma encapotada de colectivismo, e o individualista é claramente um individualista. [P.M.]
Se eu só lesse blogues com os quais concordo, não lia blogues. Se eu só lesse blogues com os quais concordo, nem sequer lia o meu blogue. [P.M.]
Chega o bom tempo e fico logo monotemático. [P.M.]
Um amigo queixa-se da presente inactividade sexual. Percebo o queixume. Mas, como consolo, explico que só o primeiro ano é que custa. [P.M.]
«Casual sex» significa «sexo sem compromisso». E não «sexo casual», como aparece traduzido na televisão. Um tipo vai ao IKEA e encontra um colega do liceu por casualidade. Mas não aparecemos casualmente dentro da menina Rita. [P.M.]
N. pergunta porque é que escrevo na Atlântico e não escrevo na Nova Cidadania. É simples: porque não costumo usar gravata. [P.M.]
Nine o'clock, Mr Excitement here is sound asleep and I'm watching Desperate Housewives. (Laura Bush, sobre o marido)
Tal como W., eu também me deito por vezes às nove.
E mesmo sendo às nove da manhã isso não faz de mim um tipo mais excitante que o texano.[P.M.]
Depois dos golfinhos e do lince da Malcata, querem acabar com as cheerleaders. E ninguém organiza uma petição de protesto? [P.M.]
No meu último texto da GR, remeti os leitores para um poema de Hardy, porque não tinha espaço para o citar. Atendendo a alguns pedidos, aqui fica o poema.
Faintheart in a Railway Train
At nine in the morning there passed a church,
At ten there passed me by the sea,
At twelve a town of smoke and smirch,
At two a forest of oak and birch,
And then, on a platform, she:
A radiant stranger, who saw not me.
I queried, "Get out to her do I dare?"
But I kept my seat in my search for a plea,
And the wheels moved on. O could it but be
That I had alighted there!
Thomas Hardy
[P.M.]
Tenho duas ou três leitoras feministas. E sei como se impacientam com certos posts «falocêntricos».
Mas eu só peço que ponham esse meu «centrismo» em perspectiva. Que se lembrem da frase célebre de Norman Mailer, num debate com feministas: If you wish me to act the clown, I will take out my modest little Jewish dick and put it on the table and we can all spit and laugh.
Não sou judeu mas, quanto ao mais, faço minhas as palavras do orador. [P.M.]
O post anterior resultou directamente de The Life and Death of Peter Sellers, que estraga material de primeira com um argumento indigente e com parvoíces estilo Bob Fosse dos tansos.
Mas quase vale a pena desembolsar cinco euros, apenas para ver Charlize Theron numa louraça adorável e tonta (a sueca Britt Ekland, ex-Mrs. Peter Sellers e ex-Mrs. Rod Stewart).
Suspeito que a constante popularidade do cinema tem alguma coisa a ver com isto. [P.M.]
Detesto biopics. Não deve haver género que produza mais trampa por ano. Os biopics são redutores, esquemáticos, ilustrativos, apressados. Não se mete uma vida (real) em 105 minutos. E as excepções são tão poucas que sem ir espreitar à estante nem me lembro de nenhuma. Devia havia uma taxa Tobin para biopics. [P.M.]
Para compensar este extenso post sobre futebol, em breve teremos neste blogue uma dissertação (em búlgaro) sobre «Mikhail Mikhailovich Bakhtin: entre a maiêutica e o dialogismo». Mas primeiro há que ganhar em Penafiel. [P.M.]
Vem este email a propósito do teu post “O nosso lado”. E claro que não vou dizer que não és realmente do Benfica, só porque o criticaste. Era só o que mais faltava não se poder criticar aquilo que gostamos e felizmente o tempo dos capangas do Sr. Lucky Me, que controlavam as AGs do clube, já lá vai. Por outro lado, eu também sou um pouco como tu, ou seja, gosto de ganhar. mas não a todo o custo. Eis porque nunca gostei do Mourinho (embora reconheça naturalmente que ele é o melhor treinador do mundo) e muito menos do clube regional-alimentar (o tal das frutas, cafés com leite e rebuçadinhos)
Todavia, o que eu gostaria de te chamar a atenção é para o facto de o nosso clube não ter sido favorecido pelos árbitros, como referes no teu post. Quanto muito não tem sido é prejudicado. Vejamos o jogo com o Belenenses: o que é indiscutível é o penalty sobre o Nuno Gomes na 1ª parte (o puxão do Neca). Quanto ao lance do penalty que foi assinalado, o remate é, de facto, muito perto e o árbitro poderia não o ter marcado, mas o jogador não pode ter os braços levantados na grande-área, senão corre o risco de a bola lhe bater “inadvertidamente” na mão (imagina o tamanho das barreiras com os braços levantados). É um lance totalmente diferente de a bola ir ao braço estando este ao lado do corpo, porque aí o jogador não pode mesmo cortar o braço. Mas, sim, admitamos que não foi penalty (também acho que não foi, apesar de ser um lance duvidoso). Teremos sido “escandalosamente” beneficiados por isso? Tendo havido um penalty claro na 1ª parte (que, a ser convertido, poderia ter-nos dado uma vitória mais calma e segura, já que o Belenenses limitou-se a colocar um autocarro à frente da baliza até sofrer o golo), penso que não, um compensou o outro (eu bem sei que as coisas não deveriam funcionar assim, mas acho que é preferível “escrever direito por linhas tortas” do que “escrever torto”). Quanto ao lance entre o Lourenço e o Ricardo Rocha, só se consegue ver que há um ligeiro toque à 4ª(!) repetição. Era humanamente possível ao árbitro e ao fiscal-de-linha terem-se apercebido de algo, até porque o remate é efectuado. Compara só este jogo com o fcp-Marítimo em que o McCarthy está em evidente fora-de-jogo na altura do golo, o penalty não existe e há pelo menos dois foras-de-jogo inexistente assinalados aos jogadores do Marítimo em que estes ficariam isolados. Só se safou o golo anulado, porque, ao contrário do que se diz por aí, os jogadores do fcp estavam muito perto da trajectória da bola rematada pelo Diego, o que influenciou a estirada do guarda-redes. E no jogo do Sporting em Braga, nomeadamente o lance em que a camisola do Wender é puxada (ainda com 0-0) que é, no mínimo, duvidoso (por acaso, eu acho que não é penalty).
Se quiseres, podemos recuar até ao jogo do Estoril em que o que se criticou foi o timing da 1ª expulsão (estavam “só” decorridos 25 min. de jogo) e não a sua justeza. E quantos jogadores foram igualmente expulsos por palavras ao árbitro? E o tipo que pontapeia o Mantorras por trás, não deveria ter sido expulso? E o golo invalidado ao Beira-Mar em Alvalade com 0-0? E a mão do Jorge Costa na área frente ao Gil Vicente com 1-0 para o fcp?
Não alinhes na teoria do “levados ao colo” até porque não tem razão nenhuma de ser. Sou adepto de futebol há bastante tempo e a diferença este ano é que, por causa do “apito dourado”, o clube do costume não tem sido escandalosamente beneficiado como em anos anteriores. Ou achas que é “coincidência” que a pior época do fcp em 20 anos tenha sido precisamente esta? Sinceramente, acho que este ano, pela 1ª vez em muito tempo, os benefícios e prejuízos equivalem-se (e digo isto agora, sem a certeza de sermos campeões) para os 3 grandes. Está tudo muito preocupado com o facto de podermos ser campeões ao fim de 11 anos! Quer dizer, aturámos nós 20 anos de “géneros alimentares”, quinhentinhos, viagens ao Brasil, lixívia no balneário, etc., etc., etc. e agora está tudo em pulgas porque houve um ou outro lance duvidoso que foi julgado a nosso favor? Gimme a break! (Sérgio L. Bordalo)
Caro Sérgio: Agradeço a tua análise detalhada. Eu não subscrevo a tese «levados ao colo». Mas como essa acusação tem corrido, aproveitei o caso para confessar que me sinto «incomodado quando percebo que o Benfica é favorecido pelos árbitros». Uma frase que serve sobretudo como explicação do meu estranho estatuto de adepto racional. E que só secundariamente diz respeito ao Benfica e ao futebol. [P.M.]
Parece que Jennifer Aniston se vai divorciar de Bradd Pitt porque Pitt andou no pito (de Angelina Jolie, no caso).
O adultério é, com certeza, causa de divórcio. Mas o adultério com Angelina Jolie compreende claramente uma causa de exclusão da ilicitude. A nenhum homem é exigível que resista a Angelina Jolie. [P.M.]
Depois de escrever um post sobre «Direito Internacional Privado», o meu antigo professor de Direito Internacional Privado (que não vejo há dez anos) mandou-me um (simpático) mail. Agora, estou com medo de escrever um post sobre o meu primeiro linguado. Ainda recebo algum (antipático) mail do actual namorado da Clotilde. [P.M.]
Na campanha francesa, gosto particularmente de uma emenda na famosa litografia de Fernand Léger, que passou a ser conhecida como Liberté j'ecris ton NON. [P.M.]
Nunca imaginei que alguma vez a França (política) me desse alguma alegria. Faltam 28 dias. [P.M]
«As pessoas que escrevem muito sobre sexo geralmente não têm muito sexo».
«Lá estás tu outra vez a dizer mal dos franceses». [P.M.]
A verdade é que, com excepção dos tormentos amorosos, nunca passei por nada tão violento e insuportável como os exames orais de Direito Fiscal ou Direito Internacional Privado. [P.M.]
Sempre que sugiro «vamos a um restaurante mais animado» arrependo-me da sugestão. É que os «restaurantes animados» tornam um pessimista antropológico (como eu) num Exterminador Implacável. [P.M.]
Sou do Benfica. Sócio e tudo. Mas isso não impede que fique incomodado quando percebo que o Benfica é favorecido pelos árbitros. Eu quero que o Benfica ganhe, mas que ganhe porque merece, e não por causa de erros e trafulhices.
Claro que os benfiquistas não admitem que se escreva isto. Um benfiquista que escreva isto, dizem, «não é realmente do Benfica».
Conheço bem esse processo. Alguns católicos e direitistas também garantem que eu não sou realmente católico e que não sou realmente de direita. Porquê? Porque não me coíbo de criticar o nosso lado. Ora, segundo me explicam, nunca se deve criticar o nosso lado. [P.M.]
Cómico + melancólico = Melancómico
Socialista liberal + socialista feminista = Olha que Não