3/31/2005

Um post sem post

3/30/2005

Por um lado sim por outro lado não

Era o segredo mais bem guardado da imprensa portuguesa, mas o Thomas vs Cunhal desvenda finalmente o gerador automático de editoriais do arquitecto Saraiva. [P.M.]

Saúde pública

Como sabemos de pessoas que continuam a não perceber, nem passado um ano, deixamos este anúncio em prol da saúde pública: o Fora do Mundo é um web log, isto é: um diário. É naturalmente possível apreciar o género diarístico e não gostar do FdM. Mas não é possível abominar diários e simpatizar com o FdM. Assim, em caso de rejeição visceral do confessionalismo, da subjectividade, do apontamento pessoal, da evocação, aconselhamos o paciente a não visitar este blogue. Não nos responsabilizamos por episódios de urticária e úlceras no duodeno. [P.M.]

Gratitude walks

Era capaz de manter um blogue só sobre The Smiths e Leonard Cohen. A gratidão é uma coisa muito bonita. [P.M.]

Justiça poética

Leonard Cohen vai ser proposto como candidato ao Nobel da Literatura. [P.M.]

Ana Rita

Mal nos conhecíamos. Acho que se chamava Ana Rita. Estou a ver a cara dela. Mas não tenho a certeza do nome. Acho que era Ana Rita. Estou a ver o momento em que me emprestou umas cassetes. Um fim de manhã de outono. Uma cassete dizia The Queen is Dead.



Obrigado, Ana Rita. [P.M.]

Letras 4

When they said REPENT REPENT
I wonder what they meant


Leonard Cohen, The Future (1992), «The Future» [P.M.]

Agrião agrião

A cabeça guarda memórias absurdas. Por exemplo, lembro-me perfeitamente e estupidamente da refeição em que pela primeira vez comi uma salada de agriões. [P.M.]

Blonde on blonde

Naomi Watts com cabelo preto em The Assassination of Richard Nixon fica a milhas de Naomi Watts com cabelo louro em The Ring 2.

Isso prova que as louras são mais atraentes que as morenas? Não: prova que o restaurador Olex é que tinha razão. [P.M.]

Manchester, so much to answer for

The Smiths have had a singular impact on popular culture. They looked like nobody else and sounded like nobody else. The music of The Smiths contained an emotional depth and a technical virtuosity that moved people in a way that almost no other band has managed before or since. In spite of their enormous cultural significance and personal resonance, The Smiths have yet to receive sustained academic attention. To date, there have been remarkably few serious examinations of the band. The purpose of this symposium is to put that right. The event seeks to draw together academics and others who wish to critically examine what The Smiths meant and continue to mean almost two decades after their untimely demise. Among the themes that we hope to address are: gender and sexuality, race and nationality, a sense of place, the imagination of class, the significance of Manchester in popular music, the aesthetics of the band, fan cultures and musical innovation.

Leiam aqui o programa do encontro «Why Pamper Life’s Complexities? - A Symposium on The Smiths» ( Universidade Metropolitana de Manchester, 8 e 9 de Abril) [agradeço a indicação ao Nuno].

Uma curiosidade: há um participante português, Paulo Oliveira (Universidade de Aveiro), que apresentará a comunicação «The Smiths and Working Class Realist Aesthetics». [P.M.]

3/29/2005

Admirável mundo novo

Que se mande uma sonda ao planeta Saturno não me impressiona. Mas que o computador portátil actualize automaticamente a hora de verão é uma coisa que me deixa atónito. [P.M.]

Linques

O novo blogue da autora do My Moleskine saiu finalmente do armário. E o Rui Branco fez a sua estreia a solo. Visitai, ó gentes. [P.M.]

Why pamper life's complexities

Dizer mal dos universitários? Nunca. Jamais. Pelo menos depois de ter encontrado isto (via Office Lounging). [P.M.]

Pós-colonialismo (3)

Não pretendo ofender saïdianos e boaventuristas, mas este é para mim o zénite de séculos e séculos desta chafarica: a impressionante embaixa papal, na qual levámos o espantoso, poderoso e nunca visto rinoceronte (perpetuado por este desenho de Dürer). [P.M.]

Pós-colonialismo (2)

Pergunto a uma amiga, familiarizada com o policiamento universitário do «pós-colonialismo», se se pode dizer bem de Vasco da Gama. Disse-me que sim. Para a universidade, Vasco da Gama é um «descobridor», um «aventureiro», e portanto não deve ser tratado como um «colonizador», um «imperialista». E Afonso de Albuquerque? Esse não, disse sem ambiguidade a minha amiga. [P.M.]

Pós-colonialismo

Os «índios» não gostam que lhes chamem «índios», porque isso deriva do erro do «homem branco», que queria encontrar a «Índia» e encontrou a «América». Preferem que lhes chamem «americanos nativos», embora esse nome venha do «homem branco» Amerigo Vespucci, mais conhecido como Américo Vespuccio. [P.M.]

Waterboys

«Mas tu gostavas mesmo dela?»

«Claro que gostava mesmo dela. Mas nessa época eu também gostava mesmo de Waterboys». [P.M.]

3/27/2005

Um ano de ausência, quase.

Um ano desde que, rodeados de jornalistas, gin, energúmenos, frequentadores daquele bar, leitores do Monde, lugares-comuns, decidimos que o melhor era estar fora do mundo. [F.J.V.]

3/24/2005

O Fora do Mundo faz hoje um ano. Continua e continuará um blogue sem agenda. Obrigado pelas visitas, os links, os mails.

3/23/2005

Margarina

Às vezes, num manuscrito de um romance célebre, aparece uma anotação à margem a dizer (por exemplo) «comprar margarina». [P.M.]

O País Relativo

País pobrete e nada alegrete,
baú fechado com um aloquete,
que entre dois sudários não contém senão
a triste maçã do coração.


Alexandre O'Neill

O País Relativo foi um de cinco blogues de esquerda que segui desde o princípio. Foi, dos cinco, o mais (sem excepções) moderado e cordato. Conotado com o Partido Socialista (por causa da militância de alguns dos seus membros), enfrentou, com assinalável elevação, uma crise grave no partido.

O País Relativo era um blogue supostamente próximo da chamada «ala esquerda» socialista. Mas apareceu sempre como uma esquerda sem ferrugem. Uma esquerda que nasceu em democracia e não recorre a espantalhos. Uma esquerda que não faz do adversário um inimigo. Uma esquerda que reconhece sem complexos que nalgumas matérias essenciais tem mais pontos de acordo com uma direita liberal do que com uma esquerda radical.

Com certeza que discordámos muitas vezes. Mas também concordámos algumas vezes (sobre política) ou quase sempre (sobre filmes e discos). Porque a política também é relativa. E foi bom ver socialistas que assumem que o grande poeta não é o do costume, mas Alexandre O'Neill ou Ruy Belo.

Ao fazer dois anos, O País Relativo terminou. Um abraço aos amigos, conhecidos e emigrantes do blogue. Felizmente, podemos continuar a ler o Filipe Nunes e o Rui Branco aqui e o Pedro Adão e Silva aqui. [P.M.]

Cinco estrelas

Não há hotéis de cinco estrelas. Os hóteis têm, no máximo, quatro estrelas. Foi preciso mais para serem cinco. [P.M.]

3/22/2005

Excessivamente náutica

There was a Young lady of Portugal,
Whose ideas were excessively nautical:
She climbed up a tree, to examine the sea,
But declared she would never leave Portugal.


Edward Lear

Decálogo

«Não cobiçarás a mulher do próximo». Ok, ok. Mas isso, acho eu, é no sentido de «a esposa do próximo». E estes são apenas namorados.



(Heath Ledger, namorado de Naomi Watts)

[P.M.]

Naomi Watts



Gosto muito de Mulholland Drive (2001) por muitas razões. Mas bastava ter dado a conhecer Naomi Watts para esse filme ser muito cá de casa.


Não há cabelo mais louro que o cabelo de Naomi Watts. Não há olhos mais azuis que os olhos de Naomi Watts. Não há epiderme mais rosada que a epiderme de Naomi Watts. Não há dentes mais brancos que os dentes de Naomi Watts. Não há boca mais escarlate que a boca de Naomi Watts.

E não há nada que Naomi Watts faça ou diga que não me deslumbre ou comova.

Nos anos 50, quando um fulano se sentia assim por uma actriz, dizia que estava «apaixonado». Mas isso era nos anos 50. [P.M.]

Publicista

Converso com uma jornalista que prepara uma peça sobre uma matéria política. A jornalista pergunta como quero ser identificado nessa peça. É uma velha questão. A melhor maneira, claro, seria «pária social». «Crítico literário» (ou mesmo «poeta») é descabido neste contexto (no que me diz respeito, é descabido em qualquer contexto). «Jornalista»? Tenho carteira de jornalista, mas em rigor não sou jornalista. E se digo que sou, tenho logo trezentas pessoas à perna a protestar «nunca vi esse senhor à porta do TIC». A entrevistadora sugere então: «publicista». É uma noção muito oitocentista. Gosto muito do termo, embora tenha caído completamente em desuso. Enfim, digo que me parece bem. Sou então, para efeito da peça, «publicista». É um termo arcaico? Mas eu também sou um tipo arcaico. [P.M.]

Herbalife

Como toda a gente, recebo imensos mails publicitários. Como toda a gente que escreve, recebo alguns mails sobre o que escrevo (nomeadamente as crónicas). Mas esta semana, recebi um mail de publicidade a propósito de uma crónica. Eu explico: uma pessoa leu a minha crónica sobre a minha resistência aos ginásios e a minha dificuldade em emagrecer e mandou-me um mail a vender Herbalife.

Depois disto, até tenho medo de escrever uma crónica sobre sexo. [P.M.]

3/21/2005

Cenas 1

35. Cut to young man trying to call his lover. He looks desperate. He takes off. He drives to her place, climbs up in her buildings ledge, and peers into her apt--there she is having sex with another man

Krzysztof Kieslowski, Trois Couleurs: Rouge (1994).

(tirado deste site). [P.M.]

Doze e treze

Ao contrário do que se diz, o 13 é um número magnífico:

1. Les Anges du Péché 1943
2. Les Dames du bois de Boulogne 1944
3. Le Journal d'un curé de campagne 1950
4. Un condamné a mort s'est echappé 1956
5. Pickpocket 1959
6. Le Procès de Jeanne d'Arc 1962
7. Au hasard Balthazar 1966
8. Mouchette 1967
9. Une femme douce 1969
10. Les Quatre Nuits d'un reveur 1971
11. Lancelot du Lac 1974
12. Le Diable probablement 1976
13. L'Argent 1982

E o 12 também:

1. Citizen Kane 1941
2. The Magnificent Ambersons 1942
3. The Stranger 1946
4. The Lady from Shanghai 1947
5. Macbeth 1948
6. Othello 1951
7. Mr Arkadin 1955
8. Touch of Evil 1958
9. The Trial 1962
10. Chimes at Midnight 1966
11. The Immortal Story 1968
12. F for Fake 1975

[P.M.]

Namoradinhas



Kate Bosworth (à esquerda) faz de Sandra Dee (à direita) no filme de Kevin Spacey Beyond the Sea.

A namoradinha dos anos 60 encontrou uma digníssima sucessora. Ainda por cima, Bosworth é namorada do apolíneo Orlando Bloom. O mundo está bem como está. [P.M.]

But all he captures is endless rain

2 A.M. Regresso a casa, saído do cinema. Chuvisca. Ao fundo da minha rua, do outro lado do passeio, um homem (que me parece oriental) está ao telefone numa cabine pública. Tem o fio estendido até ao máximo. Está a chorar. [P.M.]

3/20/2005

Literatura séria

para ENP



O último romance de quem? Não sei, não sei. Eu só leio literatura séria.

[P.M.]

Cadeia de transmissão

Amigos que começam por ser amigos por causa de sinais. Sinais de luzes, quase. Gostamos do mesmo gosto, temos gosto com o mesmo gosto. E uma outra coisa, uma espécie de (ouso dizer?) moral. Mas, como o outro, não me peçam definições.

Um amigo recente procurava explicar o fenómeno e citava uma canção de Lloyd Cole (o mesmo gosto, cá está, o mesmo gosto). Agora, em forma de «cadeia de transmissão», reenvio essa canção a outro amigo recente.

I well I don’t know when I when i`ll be content
But I do know I need a brand new friend
.

[P.M.]

Na cabeça, nas tripas, no coração

Uma carta sobre o post «Fusão fria»:

Escrevo a propósito da coisa da «frieza». Robert Bresson e o Hal Hartley eu deixava passar, mas o Kieslowski, enfim, é como se me dissesse respeito. Digamos que não sou pessoa de guardar recortes de jornais, mas tenho o obituário que a Time publicou na semana a seguir à sua morte. Parece-me que, como eu, és admirador do polaco, mas não compreendo isso dos «autores frios» e das «pessoas frias». Frieza é ausência, distância, não é? Como é que podemos considerar alguém que nos tocou deliberadamente – na cabeça, nas tripas, no coração – uma pessoa fria? E se fomos tocados, como poderemos nós ser frios?

Há bons anos que me ando a mentalizar para a irrepetibilidade do que senti ao ver «Trois Couleurs, Bleu». O filme foi direitinho ao mais eu de mim, e não sei se outra obra fará tanta mossa no meu espírito. E eu sou reservada, cautelosa e pouco sentimentaleira – mas defesa não é frieza, acho. Com ou sem aspas.

Se calhar mais valia ter resumido toda esta história assim: eram meados dos anos noventa, e uma rapariga de crédulos dezassete anos corria as discotecas de Lisboa, folheando catálogos de música clássica à procura de um tal Van den Budenmeyer.


Ana Cláudia Vicente

3/18/2005

Gordos cómicos gordos trágicos



Há uma importante tradição de gordos cómicos no cinema americano, de Oliver Hardy a Kevin James, passando pelo fabuloso John Belushi e pelos também recentes John Goodman, John Candy ou Jack Black. Mas convém lembrar que existem também excelente gordos trágicos no cinema (Edward G. Robinson, Charles Laughton, Orson Welles), que não são trágicos por serem gordos (como os cómicos) mas que parecem ser gordos como resposta à tragédia. Como se a gordura fosse uma máscara. O caso maior é porventura Welles em Touch of Evil (1958), um dos mais belos filmes americanos de sempre. [P.M.]

O caso do vestigo

Há umas semanas, escrevi um post no qual fazia referência (metafórica) a um «vestido». Mas enganei-me e apareceu «vestigo». Pois bem: tive vários mails e mensagens que comummente propunham esta dedução linguística:

vestido - vestigo - vestígio - Vertigo.

Exclamemos, como exclamavam alguns esquerdistas sobre Estaline: Derrida / está vivo / nos nossos corações. [P.M.]

Prazeres pós-modernos

Observar, num café, a cara aventurosa e timorata das pessoas que procuram com os olhos o seu (desconhecido) net-date. [P.M.]

Sobre literatura

Dois óptimos textos sobre literatura: «Efeitos colaterais da crítica bulldozer» (Rui Ângelo Araújo) vem no mais recente número da Periférica. «Real, real, porque me abandonaste?» (Rui Lage) está no QFM. [P.M.]

Descarregar

É normal que uma pessoa quando está chateada com alguma coisa descarregue em terceiros. Mas, se somos esse terceiro, é disparate dizer: «estás chateado e por isso descarregas em mim». Uma pessoa pode reconhecer essa situação racionalmente. Mas admitir que isso é assim significa admitir a possibilidade de esse argumento ser sempre utilizado. E uma pessoa gosta de ser levada a sério quando está chateada. [P.M.]

Ad hominem

Se me deixei de «polémicas»? É um facto que, por cansaço, desisti de responder a polémicas ad hominem. E, no nosso panorama, quando se elimina o factor ad hominem não sobram polémicas nenhumas. [P.M.]

3/17/2005

Riso

Ouvia o riso da rapariga. Mas não via nem ouvia a razão desse riso. O riso soava tão consecutivo e intenso, tão silencioso em palavras, que era como se eu tivesse o ouvido encostado à parede e a rapariga estivesse do outro lado da parede a fazer amor. Nunca me tinha acontecido sentir embaraço por causa de um riso. [P.M.]

3/16/2005

À clef (com uma piada de Woody Allen)

Às vezes escrevo posts tão pessoais que só cinco ou seis pessoas é que entendem. E eu não sou uma dessas pessoas. [P.M.]

Títulos

N. diz que o problema não está nos posts obscuros mas nos títulos incompreensíveis (face ao respectivo texto).

Admito que sim. Mas gosto quando os títulos são pequenos enigmas, por vezes difíceis e outras vezes positivamente à clef, só descodificáveis por quatro ou cinco pessoas.

Ainda assim, estou longe da técnica aleatória magrittiana. Algumas vezes, depois de terminar um quadro, Magritte telefonava aos amigos para que sugerissem um título. Mas que o sugerissem ao telefone, sem verem o quadro. Só assim os títulos atingiam o esplendor do acaso significativo.

E depois, claro, os críticos que se esfalfassem a propor interpretações do título. [P.M.]

Echo & the Bunnymen

Eduardo Prado Coelho é o convidado do próximo É A CULTURA, ESTÚPIDO!, que vai ter lugar hoje, 16 de Março, às 18.30h, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz. Eduardo Prado Coelho falará sobre “Para que servem os intelectuais?”, numa conversa com a jornalista Anabela Mota Ribeiro. Ricardo de Araújo Pereira apresenta e, como sempre, faz o stand-up final. Poderá também ouvir as escolhas dos críticos e jornalistas residentes: José Mário Silva, Pedro Mexia, João Miguel Tavares, Nuno Costa Santos, Daniel Oliveira e Pedro Lomba.

FHM

Vem aí a edição portuguesa de uma revista a que o Nuno chama, com alguma pertinência, «Filosofia e História Medieval». Nem mais: a FHM, outra lad's mag com testosterona, dirigida pelo ex-bloguista Pedro Boucherie Mendes.



(na capa desta edição oriental da revista está Zhang Ziyi, a lindérrima actriz chinesa que vimos em filmes de Ang Lee e Zhang Yimou, e que é provavelmente a nova Gong Li) [P.M.]

3/15/2005

Letras 3

But don't forget the songs
That made you cry
And the songs that saved your life
Yes, you're older now
And you're a clever swine
But they were the only ones who ever stood by you


(The Smiths, «Rubber Ring», The World Won't Listen, 1987)

No thanks

Um romance de Beckett, Murphy, detém provavelmente o recorde de rejeições de um original (foi recusado por quarenta e duas editoras, segundo a biógrafa Deirdre Bair). É ao saber coisas destas que um tipo fica meio envergonhado por sequer ter uma editora. [P.M.]

Fusão fria

Se eu me emociono com filmes de cineastas «frios» como Bresson, Kieslowski ou Hartley, isso faz de mim necessariamente uma pessoa fria? [P.M.]

Comissão da carteira

«Para a seduzir pedi uma acreditação como blogger». [P.M.]

Sociedade do espectáculo

A expressão «não está famoso» significa apenas «está mal». Não é nenhum comentário sibilino sobre a «sociedade do espectáculo». [P.M.]

Front seat tickets

As mulheres quando discutem as maminhas umas das outras. [P.M.]

Idem aspas (2)

A resposta de Beckett é insuperável, na sua formulação em francês, porque este «bon» não significa «ser bom em» mas apenas «ser bom para» (ou «servir para»). Sendo que existe naturalmente um jogo com o qualificativo «bom» e a sua derrisão com o «servir». Em quatro palavras, toda uma tragicomédia. [P.M.]

Idem aspas

A mais fantástica (e mais telegráfica) resposta à entediante pergunta jornalística «porque escreve?» foi dada uma vez por Beckett: Bon qu'a ça. [P.M.]

3/14/2005

The gentleman from Paris



Para desintoxicar do ópio, Raymond Aron. Nasceu a 14 de Março de 1905 e morreu a 17 de Outubro de 1983. [P.M.]

3/13/2005

«Il Porto Sepolto»

Il Porto Sepolto
(Mariano, il 29 giugno 1916)


Vi arriva il poeta
e poi torna alla luce con i suoi canti
e li disperde

Di questa poesia
mi resta
quel nulla
d'inesauribile segreto

Giuseppe Ungaretti

Il porto sepolto

Lembro-me de uma conversa, ao pé do rio, na qual definimos conceitos como «amor», «traição», «amizade», «sinceridade», «sexo», «competição», «segredo». Doze anos depois, não definiria nenhum desses termos da mesma maneira que o fiz então. Doze anos? Podia jurar que foi há quarenta ou cinquenta. [P.M.]

Entrega de manuscritos

Acontece que «paraninfar» é simplesmente «apadrinhar». Não tem nada a ver com ninfas. [P.M.]

Ver e ser visto

Acho graça quando alguém critica os socialites por irem a festas para «verem e serem vistos». As festas existem precisamente para as pessoas «verem» e serem «vistas». Eu iria a todas as festas possíveis e imaginárias se numa festa a gente só «visse». Mas a parte de «ser visto» faz de mim um homem caseiro. [P.M.]

Prosa literal

De vez em quando alguém diz que este ou aquele post «não se percebe». Não se percebe como? «É ambíguo», respondem. Mas o post, mesmo o post fracassado, ambiciona à literatura. E a literatura sem ambiguidade é apenas prosa literal. [P.M.]

Pacta sunt servanda

Agradeço aos que me fazem chegar simpaticamente comentários sobre a minha fraca prestação catódica. Garanto que ninguém tem mais consciência do que eu dessa fraca prestação. Mas pacta sunt servanda. Em breve, para satisfação minha e vossa, regresso à minha verdadeira vocação, que é, como sabem, a esgrima com florete. [P.M.]

Como disse?

para o NCS

Às vezes é uma pura questão terminológica. Se em vez de «casamento», a palavra for «conjugalidade», não tenho tantos pruridos. É uma palavra mais feia, mas não tem uma carga simbólica tão forte. E eu, como conservador, tenho muito cuidadinho com os símbolos. [P.M.]

A direita e as direitas

Quando, no post anterior, disse «Eva Mendes (à direita)», estava apenas a sinalizar a fotografia. Não creio que Eva Mendes esteja disponível para a famosa «refundação da direita». [P.M.]

Hitch

Uma é loura outra é morena, diz a famosa cantata de Arvo Pärt.

Em Hitch, uma comédia actualmente em cartaz, encontramos o mais fantástico elenco «loura e morena» para aí desde Mulholand Drive. O filme conta com Amber Valletta (à esquerda) no papel de uma magnata e com Eva Mendes (à direita) a fazer de jornalista de escândalos.




Penso que Hitch se chama assim apenas por pudor e abreviatura. Amber e Eva remetem claramente para o nome do mestre do suspense. [P.M.]

3/11/2005

11 de Março

Anos 70

A propósito de nostalgia: A actriz Zilka Salaberry morreu ontem no Rio de Janeiro, Brasil, aos 87 anos. Salaberry trabalhou (...) sobretudo em televisão, onde ficou conhecida com o papel de Dona Benta na primeira versão da série infantil Sítio do Picapau Amarelo, exibida no final da década de 70 no Brasil e em Portugal. Essas tardes pacatas, nos anos setenta, na sala, muito lourinho, sentado na alcatifa, a comer iogurte. Coisas que ficam e moem. [P.M.]

História clínica, uma carta

A minha história clínica supera a sua. Vi o Fuga para a Vitória pelo menos trinta vezes. Adoro o filme e não há nada a fazer. Até o facto de nele participar o Stallone me enternece. Como sou judia e gosto muito de futebol (e o filme até tem o Pelé), esse filme é uma espécie de amuleto cá em casa. Há seguramente filmes muito melhores, mas gosto muito, não me canso de o rever. Mais: tenho-o gravado em Beta, VHS, em VCD, em Laser Disc e em DVD. Mas sempre que o filme passava (passa) na TV marchava (marcha)à mesma. O problema é que não me quero tratar.

Ana Albergaria

História clínica

O filme que vi mais vezes (graças à RTP e às tardes de domingo), foi Fuga para a Vitória (umas dezoito vezes). Exacto: o jogo de futebol entre os craques sortidos e os guardas nazis. Agradeço que pacientes com história clínica semelhante me contactem para formarmos grupo terapêutico. Obrigado. [P.M.]

Sobre a «política cultural»

Um filme



um livro



Não se trata de «embirração», meu caro, apenas de prevenção. [P.M.]

Phasianidae a edil

Segundo a imprensa, os «intelectuais» e os «artistas» apoiam Phasianidae como candidato a edil. Eu sempre avisei que não era um «intelectual» nem um «artista». [P.M.]

Um rapaz de Lisboa

Nunca digo mal do Sporting. Eu sou do Benfica, mas acima de tudo sou um rapaz de Lisboa. [P.M.]

Exagero

As pessoas dizem bem de mim. As pessoas dizem mal de mim. Pouco importa. Em ambos os casos, acho sempre um enormíssimo exagero. [P.M.]

Comuna

Estreou ontem a adaptação para teatro de Cosmos (1967), romance do polaco Witold Gombrowicz (1904-1969), um dos escritores mais originais e heterodoxos do século passado. Era, segundo as autoridades foice-martelistas da sua pátria renegada, um «esteta», um «imaturo», um «formalista», um «depravado», um «reaccionário». Curiosa ironia que a peça estreie num teatro chamado Comuna. [P.M.]

Para quem acha que o blogue está com muitos palavrões

aqui fica escrita, pela primeira vez, a palavra «perfunctório». [P.M.]

Tradução simultânea

A sôtora protestou contra a minha tradução do dístico de cummings (post «Necessidades»). Diz ela que «ass», no poema, é «asno» ou «burro», o que faz mais sentido lógico com o segundo verso. Mas «ass», em inglês, é ambíguo (Nick Cave teve o mesmo problema quando chamou ao seu romance And the Angel Saw the Ass). E, para a minha necessidade, «rabo» (ou por outra: «cu») fazia mais sentido que «burro». Um tipo pode não ser burro e no entanto ser um cu. [P.M.]

Por cada Tchekhov

para LQ

Confesso que fico espantado sempre que encontro gente com carácter entre os escritores. Quem, como eu, é leitor apaixonado de biografias, não pode negar a evidência documental: os escritores (mesmo os mais admiráveis) são geralmente uns filhos da puta. Por cada Tchekhov, existem trinta e cinco patifes capazes de vender a própria mãe. É por isso extremamente reconfortante (e surpreendente) saber que entre as pessoas mais íntegras que conheço estão sete ou oito escritores. E depois, claro, há os trinta e cinco filhos da puta do costume. [P.M.]

Ética bloguista #35

Os blogues são perigosos porque são como que um papel vegetal no qual se vê (à transparência) o carácter. [P.M.]

Quem te avisa

O blogue do Sindicato da Panificação do Distrito de Viseu o blogue da Associação de Vidreiros de Mafra o blogue da Confraria dos Amigos do Campino o blogue dos Percussionistas Amadores da Arrentela andam a dizer muito mas mesmo muito mal de ti. [P.M.]

Um conservador

Segundo o psicólogo Santinho Martins, a «dependência sexual» atinge cinco por cento dos portugueses, na sua maioria homens entre os 20 e os 30 anos. Eis o que se pode chamar, com propriedade, uma estimativa conservadora. [P.M.]

3/10/2005

Letras 2

It's a one time thing
It just happens
A lot
Walk with me
And we will see
What we have got


Suzanne Vega, Suzanne Vega (1985), «Cracking» [P.M.]

Porque gosto de blogues

Porque posso dizer «agora estou sem tempo para escrever e não sei quando vou voltar a ter tempo» e a seguir escrever vinte posts seguidos. [P.M.]

3/09/2005

Letras 1

the reason it's a cliche is because it's true
the harder you climb, the harder you fall, and that means you
so mister hard head, hard nose, hard as steel
you're just a punch drunk sycophant, a little s.o.b.


Lloyd Cole, Lloyd Cole (1990), «A Long Way Down» [P.M.]

Letras

Chamamos «letras» ao que em inglês se diz «lyrics». Isso remete necessariamente para a discussão clássica: serão as letras de canções «poemas»? Não vou entrar por agora nesse debate. Mas inicio aqui uma rubrica sem regularidade sobre letras ou bocados de letras que me impressionaram e que recordo com frequência. São como que um refrão que pontua a existência e que uso quase como um catecismo. Vamos pois à primeira «lyric». [P.M.]

3/08/2005

Fachada

Gosto muito da expressão de Álvaro Cunhal «radicalismo pequeno-burguês de fachada socialista». Mesmo porque eu fui isso mesmo, aos quinze anos, por exemplo. Embora não fosse «radical», não fosse «pequeno-burguês» e não fosse «socialista». Mas a parte da «fachada» bate certo. [P.M.]

Vagas revoltas

Uma vez passou uma série na tv (da qual não lembro nada) que se chamava em português Vagas Revoltas. Adorava esse nome. Provavelmente, as «vagas» eram apenas «ondas», e revoltas lia-se «revôltas». Mas eu, que sempre fui pacato mesmo nas rebeldias adolescentes, gostava imenso de outra possibilidade: «vagas revóltas». [P.M.]

A propósito do Søren

Não tenho aqui assinalado efemérides bloguísticas, mas abro uma excepção. O Voz do Deserto fez dois anos. E há quase dois anos que digo que o Voz do Deserto é (para mim) o melhor blogue português. O melhor porque é o mais original (punque roque evangélico pimba erudito samaritano mordaz) e porque é um blogue que não podia ser senão um blogue (que inveja, gula e ira me causam aqueles posts curtinhos). Daqui vai um abraço dinamarquês ao Tiago Cavaco. [P.M.]

Subjectividade subjectiva

Kierkegaard e a sua teoria da subjectividade fazem parte do meu credo mais fervoroso. Mas, a propósito da subjectividade em Kierkegaard, nem todos se lembram de um aspecto que é bem explicado neste texto: Kierkegaard admits that subjectivity becomes comical when it is misplaced; i.e. when subjectivity is misinterpreted as objectivity. E nesta nuance está tudo o que importa. [P.M.]

Pais e filhos (2)



O vocalista dos Strokes, Julian Casablancas, é filho de John Casablancas, fundador da agência de modelos Elite. Para retomar a expressão de cummings, terá sido um caso de «upbringing» ou de «downbringing»? A língua inglesa é muito traiçoeira. [P.M.]

Pais e filhos (1)

O prestigiado poeta americano James Merrill (1926-1995), era filho de Charles Edward Merrill (1886-1956), que fundou a prestigiada corretora Merrill Lynch. «Prestigiado» aqui quer dizer duas coisas diferentes. Mas se quiser dizer a mesma coisa também não faz mal. [P.M.]

Adenda: alguém levava a sério, por cá, um poeta que fosse filho de um grande financeiro?

Garfield, mon frère

Ficou surpreendida por encontrar uma colecção com tiras do Garfield em minha casa. Mas um gordo ocioso, a ronronar por pose no meio de muita livralhada, não pode deixar de reconhecer um seu igual. [P.M.]

Downbringing

Felizmente, não tenho nenhuma razão de queixa da minha educação. Mas conheço pessoas que sofreram uma «educação» traumática. Que em vez de um «upbringing» tiveram, como dizia cummings, um «downbringing». [P.M.]

Dois em três (2)

para o ZMS

Graças ao meu avô Manuel e graças à Gótica, à Quasi, à Relógio d'Água e à Cotovia, eu também fiz o meu «dois em três». Mais que isso é pedir demasiado. [P.M.]

Dois em três

Em Auto Focus (2002), de Paul Schrader, Bob Crane (Greg Kinnear), um apresentador de tv e tarado sexual de armário, diz ao seu agente: «I don't smoke, I don't drink, two out of three ain't bad». Mais que isso era realmente pedir demasiado. [P.M.]

Sei onde estás

Umberto Eco apontou uma notória vantagem do telemóvel sobre o telefone fixo: a vantagem de as esposas não atenderem telefonemas das amantes do marido.

Mas lembro outra grande vantagem: como os números mais comuns estão gravados, acontecem muitíssimo menos chamadas para números errados. Desde que tenho telemóvel, só seis ou sete vezes é que era engano.

Curiosamente, a primeira chamada que recebi foi engano. Pelo menos espero que fosse. Atendi (estava na defunta Valentim de Carvalho do Rossio) e uma voz de homem disse: «Não vale a pena fugires que a gente sabe onde estás». Primeiro, fiquei com vontade de nunca mais atender um telemóvel. Mas depois fiquei sobretudo com pena de Hitchcock ter morrido ainda na época do telefone fixo. [P.M.]

Eu pagava

Quando o Ivan descobriu (e me chamou a atenção para) a blogosfera brasileira, escreveu que o Alexandre Soares Silva era «o Pedro Mexia brasileiro». Agora, depois de conhecer melhor o blogue do Alexandre e o livro Wunderblogs, tenho que confessar que eu pagava uma nota preta para poder ser «o Alexandre Soares Silva português». [P.M.]

Caligrafia

Vou folheando a agenda telefónica e reparo que foi preenchida em três vezes diferentes. Vê-se pela diferente tinta azul de três canetas. Mas o mais flagrante é o tipo de letra. Num caso, tem um aspecto. E noutros dois tem outro, semelhante entre si e diferente do primeiro. Como é uma agenda recente, consigo reconstituir que um dos preenchimentos foi feito num momento carnalmente apático, ao passo que os outros dois ocorreram em época mais propícia. E assim descubro, com surpresa e relutância, que a minha caligrafia muda de acordo com a minha (digamos) «vida sexual». E ainda dizem que o doutor vienense exagerava. [P.M.]

Spleen e ideal

para a Meg

Apollonie Sabatier (1822-1889) foi uma das mais famosas musas do romantismo francês. No seu partamento da Rua Frochot organizava salões com artistas e escritores (Flaubert, Nerval, Gautier). Eram seus admiradores e nalguns casos amantes.

Charles Baudelaire foi um desses apaixonados. Durante cinco anos (entre 1852 e 1857) enviou a Sabatier cartas arrebatadas (e anónimas). Essa paixão inspirou poemas como «A Celle qui est trop Gaie», «Tout entière», «Que diras-tu ce soir», «Le Flambeau Vivant», «Réversibilité», «Confession», «L’Aube Spirituelle», «Harmonie du Soir».

Quando, em 1857, se inicia o processo judicial contra Les Fleurs du Mal, o poeta finalmente revela a sua identidade a Sabatier. A 30 de Agosto 1857, o amor é consumado (carnalmente). E termina nesse momento. Baudelaire escreve, numa carta: «Il y a quelques jours, tu étais une divinité, ce qui est si commode, ce qui est si beau, si inviolable. Te voilà femme maintenant... ».

Sobre este episódio podemos escrever frases emotivas ou cínicas («os homens» isto, «a idealização» aquilo, «o romantismo» não sei quê). Mas, sob pena de sermos insensatos, o melhor é não escrevermos frase nenhuma. [P.M.]

3/07/2005

Scary movie



A cena mais assustadora do cinema para mim não está em nenhum filme de terror. Está em Celebrity (1989), de Woody Allen, quando Famke Janssen, para se vingar da infidelidade de Kenneth Branagh, lhe atira o manuscrito do romance ao rio Hudson. Para quem escreve, é uma visão absolutamente atroz. É por isso que convém sempre fazer várias cópias. Ou, em alternativa, ser fiel à namorada. [P.M.]

Paulo Mexia

Num telejornal da tarde para o qual me convidaram, a pivô chama-me repetidamente «Paulo Mexia». Fui emendando. Já fora das câmaras, explicou: «Desculpe, confundo-o sempre com o seu irmão Paulo, o poeta». Tendo em conta que eu não tenho irmãos e que «o poeta» seria (imagino) eu próprio, temos que fui confundido (em público) comigo mesmo. Uma coisa digna de Jorge Luis Borges. [P.M.]

Missing you

Ponho a caixa de correio em ordem. Faz hoje um mês e seis dias que não recebo nada dos Amigos de Olivença. [P.M.]

Necessidades

Todos temos necessidades. A minha necessidade agora é lembrar este poema de e.e. cummings, que traduzo:

Um político é um cu sobre o qual
toda a gente se sentou menos um homem


[P.M.]

Latrão

De uma discussão na mesa ao lado, no bar Snob, às 3 da manhã:

«Se eu te estou a dizer que foi no Concílio de Latrão, caralho». [P.M.]

Citröen

No jornal, com o novo grafismo, mudaram as aspas. Estas: (« ») passaram a estas: (" "). Curioso foi o modo como me preveniram: Já não usamos as aspas Citröen. Nunca pensei que uma marca de automóveis tivesse tal poder sobre a linguagem. [P.M.]

Sobre a monogamia

A loja muda periodicamente o lugar das diferentes secções de livros. E muda mesmo o sentido das escadas rolantes (a que desce passa a subir e vice-versa). Nunca sei se é para testar várias soluções, para beneficiar rotativamente certas secções ou apenas para que as pessoas não caiam na rotina. [P.M.]

Tem sido totalmente impossível actualizar o blogue, pelo que a lista com a votação está quase transformada no velho post sobre «o panamá da existência» que durante semanas abrilhantou esta casa. Enquanto a malvada vida laboral não permite novos textos, deixamos aqui uma imagem em escolha automática. E a primeira ideia que nos ocorreu foi a fermosa bandeira do Líbano.