2/28/2005

As melhores bandas portuguesas: resultados

1. GNR (36)

2. Mão Morta (33)

3. Sétima Legião (32)

4. Madredeus / Ornatos Violeta / Xutos e Pontapés (31)

7. Heróis do Mar (29)

8. Radio Macau (27)

9. Clã (24)

10. Mler ife Dada (23)

11. Da Weasel (21)

12. Belle Chase Hotel (19)

13. Pop Dell’Arte (18)

14. The Gift / Três Tristes Tigres (17)

15. Táxi (16)

17. Ena Pá 2000 (14 + 4 Irmãos Catita)

18. Trovante (13)

19. Ban (12)

20. Peste e Sida (10 + 3 Despe e Siga)


Com 12 votos
Blind Zero

Com 11 votos
Silence 4

Com 10 votos
Blasted Mechanism
Gaiteiros de Lisboa
Jafumega

Com 9 votos
UHF

Com 8 votos
Cool Hipnoise

Com 7 votos
Moonspell
Resistência

Com 6 votos
Coldfinger
Pedro Abrunhosa e os Bandemónio
Wray Gun

Com 5 votos
Brigada Victor Jara
Censurados
Delfins
Entre aspas
Primitive Reason
X-Wife

Com 4 votos
Danças ocultas
Mesa
Mind da Gap
A Naifa
Pluto
Quarteto 1111, 4 (mais um)
Quinteto Tati
Radar Kadafi
Tédio Boys
Toranja

Com 3 votos
Banda do Casaco
Essa Entente
Golpe de Estado
Tina and the Top Ten
Zen

Com 2 votos
Afonsinhos do Condado
Ala dos Namorados
Bizarra Locomotiva
Bullet
Dead Combo
Flood
Gomo
Hipnótica
Loto
Lulu Blind
Mata Ratos
Micro Audio Waves
Ocaso Épico
Palma's Gang
Quinta do Bill
Raindogs
Repórter Estrábico
Santos e Pecadores
Sitiados
Stealing Orchestra
Tantra

Finalmente, com 1 voto
Alla Pollaca
Arte & Ofício
Atacadores Desapertados
Banda Dos Escuteiros De Barroselas
Banda da Fundação Maestro José Pedro
Banda Da Armada
Braindead
BunnyRanch
Conjunto Típico Torreense
Corpo Diplomático
Croixsaint
Dealema
Expensive Soul
Eye
Feed
Fingertips
Fonzie
Go Graal Blues Band
The Great Lesbian Show
Hands on aproach
Humanos
Ithaka
Kús de Judas
Kussondolola
Lobo Meigo
LX 90
Mas Foice
Megafone
Mute Life Department
No Noise Reduction
Norton
Old Jerusalem
Osso Exótico
The Parkinsons
Petrus Castrus
Pinhead Society
Plaza
Pólo Norte
Precyz
Pussy Pack Power Pollution
Ramp
Ritual Tejo
Salada de Frutas
SantaMariaGasolinaemTeuVentre
Sei Miguel Quinteto
Space Boys
Street Kids
Supernova
Tara Perdida
Telectu
Terracota
Toast
Too metes nojo
Wonderland
Zero
Um Zero Amarelo

Ficha técnica e considerações avulsas no post seguinte. [P.M.]

Conteúdos pagos

O Mark Kirkby escreveu uma vez que eu me tinha rendido aos «conteúdos pagos». Confirmo: é preciso comprar as batatas, os clips e a lixívia. Assim, a minha projectada crónica sobre os Óscares foi desviada para o jornal onde escrevo. Amanhã estará aqui o link para as considerações priápico-fílmicas da noitada. [P.M.]

Adenda 1: O prometido link.

Adenda 2: No texto, não referi um dos piores momentos da noite: o Óscar para a imitação grotesca de Katherine Hepburn feita por Cate Blanchett. Nem um dos melhores momentos da noite: Robin Williams numa imitação deliciosa de Jack Nicholson ou Marlon Brando. Chris Rock: get a life.

2/27/2005

Óscares (2)

A minha declaração de voto, telegráfica:

Sideways é o melhor filme de um dos mais interessantes cineastas da nova geração (Alexander Payne), um filme de argumento & actores, muito simples, muito discreto, muito subtil, muito preciso. FILME, ACTRIZ SECUNDÁRIA, ARGUMENTO ADAPTADO

Clint Eastwood filma como se não importasse em que década estamos. E tem carisma mesmo a rilhar os dentes. Não sou incondicional do filme, mas sou incondicional de Clint. REALIZADOR, ACTOR

Imelda Staunton (em Vera Drake) é notável num colectivo sempre notável como é o de Mike Leigh e torna contraditoriamente humano um filme de causas, que nunca descamba precisamente por causa desta senhora desinteressante e comum. ACTRIZ, ARGUMENTO ORIGINAL

Clive Owen arrasa a concorrência no tépido Closer: faz de uma peça esperta e provocante um deboche verbal de machismo magoado. ACTOR SECUNDÁRIO [P.M.]

Óscares

Noitada, como de costume. Aqui deixo os meus favoritos para as categorias principais:

Filme: The Aviator, Finding Neverland, Million Dollar Baby, Ray, Sideways

Realizador: Martin Scorsese (The Aviator), Clint Eastwood (Millin Dollar Baby), Taylor Hackford (Ray), Alexander Payne (Sideways), Mike Leigh (Vera Drake)

Argumento original: The Aviator (John Logan), Eternal Sunshine of the Spotless Mind (Charlie Kaufman), Hotel Rwanda (Keir Pearson & Terry George), The Incredibles (Brad Bird), Vera Drake (Mike Leigh)

Argumento adaptado: Before Sunset(Richard Linklater, Julie Delpy, Ethan Hawke), Finding Neverland (David Magee), Million Dollar Baby (Paul Haggis), The Motorcycle Diaries (José Rivera), Sideways (Alexander Payne, Jim Taylor)

Actor: Don Cheadle (Hotel Rwanda), Johnny Depp (Finding Neverland), Leonardo DiCaprio (The Aviator), Clint Eastwood (Million Dollar Baby), Jamie Foxx (Ray)

Actriz: Annette Bening (Being Julia), Catalina Sandino Moreno (Maria Full of Grace), Imelda Staunton (Vera Drake), Hilary Swank (Million Dollar Baby), Kate Winslet (Eternal Sunshine of the Spotless Mind)

Actor secundário: Alan Alda (The Aviator), Thomas Haden Church (Sideways), Jamie Foxx (Collateral), Morgan Freeman (Million Dollar Baby), Clive Owen (Closer)

Actriz secundária: Cate Blanchett (The Aviator), Laura Linney (Kinsey), Virginia Madsen (Sideways), Sophie Okonedo (Hotel Rwanda), Natalie Portman (Closer)

Em seguida, explico porquê. [P.M.]

Folhetim

O Miniscente, começou a publicar um folhetim: «Um amor catalão». O Luís Carmelo promete levar em conta o contributo dos leitores para o desenvolvimento do enredo. Assim se recupera esse género, de boa tradição camiliana, e se experimenta a tecnologia como meio de criação literária. Cliquem no link. [P.M.]

Ética bloguística

Não gostas do post que escreveste? Então escreve outro para meteres o primeiro nos arquivos. [P.L.]

Proporções

O Ricardo Araújo Pereira confessou a um país atónito que João César das Neves «lhe dá tesão». A maior crítica que se pode fazer ao Ricardo é que ele colocou a fasquia demasiado alta. Se RAP reage assim ao Prof. João César, como ficará ele, por exemplo, diante do Padre Loreno? Imagino. [P.L.]

2/26/2005

Kim Philby

Quando digo coisas sobre alguém que conheço a alguém que não conheço, cada frase faz de mim uma espécie de Kim Philby. [P.M.]

2/24/2005

Murakami



Não se fiem na primeira tradução portuguesa de Haruki Murakami agora disponível nas livrarias. À primeira vista não me pareceu grande coisa e, acima disso, não é uma tradução do japonês. Não percebo porque é que a Cavalo de Ferro, sempre cuidadosa nas traduções, nunca pegou em Murakami. [P.L.]

Nas mãos

À procura, assustado por não as encontrar, não percebi que elas estavam nas minhas mãos. [P.L.]

Erro sobre o objecto

Há uma categoria jurídica que sempre me fascinou: o chamado «erro sobre o objecto». Erro que serve de motivo para a anulação de alguns contratos, incluindo o contrato de casamento. No entanto, em termos de sociabilidade, o «erro sobre o objecto» é a regra, não a excepção. E não dá verdadeiramente para «anular» coisa nenhuma. [P.M.]

We contain multitudes

Já dizia o Whitman. Em cima da mesa tenho um documentário do Scorsese sobre os blues, discos dos Low e dos Magnetic Fields, um ensaio sobre Wittgenstein e a Maxmen com «Pimpinha» Jardim descascada. [P.M.]

A caixa de correio está outra vez volumosa. Assim que afixarmos a votação das melhores bandas responderemos a alguns mails em atraso.

2/23/2005

Sadomacas

De facto, não é preciso inventar nada. Para o que queremos, o real é mais que suficiente. Vejo na estrada uma ambulância de um hospital ou centro de saúde algures em Setúbal. Nome do serviço: SADOMACAS. Não sei se os doentes chegam sãos e salvos ao hospital, mas calculo que muita coisa se passa na viagem. [P.L.]

Narcisismo

As pessoas nunca podem com o narcisista. Mas abrem excepção para o narcisista político. [P.L.]

Quem não tem cão caça com Gato

Víamos todos o DVD do Gato Fedorento. O riso ia destapando a barriga e as costas da rapariga. [P.M.]

2/22/2005

De um poema de Larkin

Solitude is selfish

Virtue is social
[P.L.]

Três quartos

É um pouco engraçada esta conversa dos vencedores e vencidos depois de eleições. Porque também se fala dos parcialmente vencedores e dos parcialmente derrotados. Na verdade, a partir de quanto se pode dizer que se perdeu mais do que se ganhou? E se eu estiver derrotado em 3/4, posso mesmo assim celebrar alguma coisa? [P.L.]

O número um

Falando em grandes escritores cómicos, devo dizer que o maior de todos os tempos é ainda e sempre Mark Twain. Sem ele não existiria literatura humorística como a conhecemos hoje. Podem ouvir qualquer comediante americano do século XX, mas o princípio de tudo continua a estar em Mark Twain que popularizou o género e lhe deu respeitabilidade. Quem nunca leu Twain deve espreitar rapidamente este site que tem muita coisa, embora não o meu conto preferido: A entrevista [P.L.]

Seventies

Na malta dos blogues abundam os trintões. A pensar nos trintões, fiz uma lista com canções com nomes «seventies». Nalguns casos só lá cheguei com cábula electrónica. Curiosamente, não dei com um só tema chamado «1971». É esta a lista:

«1970» The Stooges
«1972» Josh Rouse
«1973» True North
«1974» Ryan Adams
«1975» Gene Clark
«1976» Shake Appeal
«1977» The Clash
«1978» Kleenex
«1979» The Smashing Pumpkins

Mas não esqueçamos a belíssima ode ao PREC que é «'74-'75» dos Connells. Uma evocação desses anos de «aventura», «sonho» e «comissões de moradores». Ou, para os mais novos, de papa Cerelac (vai dar ao mesmo).[P.M.]

Adenda: uma leitora informa que existe uma canção dos The Gift chamada «1977». E um leitor completa o quadro, lembrando uma canção de Perry Blake chamada, precisamente, «1971». Agradeço os lembretes à Rosa e ao Nuno. O quadro fica assim completo.

Wodehouse

Tenho que discordar do Pedro Mexia num ponto. O maior escritor cómico de língua inglesa do século passado foi P.G.Wodehouse. Depois, sim, virá talvez Evelyn Waugh. Creio que Wodehouse era intencionalmente um humorista (além de grande prosador). Waugh, aliás, admirava Wodehouse por isso. Mas um católico altivo dificilmente pode ser um escritor cómico, ou sobretudo um escritor cómico. E resta saber se a sátira, que Waugh largamente praticou, pode ser considerada um género humorístico. Tenho dúvidas. [P.L.]

Nacionalismo

A 22 de Fevereiro de 1979, Santa Lucia torna-se independente do Reino Unido. É sempre bonito, o nascimento de uma nação. [P.M.]

Páginas amarelas

Algumas das novas entradas nas páginas amarelas americanas: feng shui, Botox, body piercing, paintball. [P.M.]

Triste tigre

Dois dias depois de Hunter Thompson, morreu Guillermo Cabrera Infante. Fevereiro está a ser um mês cruel para os escritores independentes. [P.M.]

Igreja Universal do Reino de Deus



Deus não é para aqui chamado. Mas este é claramente o Seu profeta. [P.M.]

Gonzo 6

A «objectividade» é objectivamente falsa, porque não existe mundo senão através do sujeito que o vê e o experimenta. Ao fazer ostensivamente parte da realidade que descrevia, HST contribuiu para desfazer o maior dos mitos, que é precisamente o mito da objectividade. Nesse sentido, é um nobre sucessor não tanto de Mark Twain mas de Soren Kierkegaard. [P.M.]

Gonzo 5

I hate to advocate drugs, alcohol, violence or insanity to anyone, but they've always worked for me. (HST) [P.M.]

Gonzo 4

Thompson também serve para compreender os blogues. Este blogue, por exemplo. Cito:

You have to get your knowledge of life from somewhere. You have to know the material you're writing about before you alter it (sublinhado meu). [P.M.]

Gonzo 3

Hunter S. Thompson escrevia jornalismo que era literatura, e literatura que era jornalismo. O seu grande mérito foi o de contestar as barreiras estritas entre «facto» e «ficção». Algo que me parece claramente um contributo filosófico. [P.M.]

Gonzo 2

Excerto de um texto de Tom Wolfe, o outro grande «New Journalist», sobre o falecido Hunter S. Thompson:

Hunter's life, like his work, was one long barbaric yawp, to use Whitman's term, of the drug-fueled freedom from and mockery of all conventional proprieties that began in the 1960s. In that enterprise Hunter was something entirely new, something unique in our literary history. When I included an excerpt from "The Hell's Angels" in a 1973 anthology called "The New Journalism," he said he wasn't part of anybody's group. He wrote "gonzo." He was suigeneris. And that he was.

Yet he was also part of a century-old tradition in American letters, the tradition of Mark Twain, Artemus Ward and Petroleum V. Nasby, comic writers who mined the human comedy of a new chapter in the history of the West, namely, the American story, and wrote in a form that was part journalism and part personal memoir admixed with powers of wild invention, and wilder rhetoric inspired by the bizarre exuberance of a young civilization. No one categorization covers this new form unless it is Hunter Thompson's own word, gonzo. If so, in the 19th century Mark Twain was king of all the gonzo-writers. In the 20th century it was Hunter Thompson, whom I would nominate as the century's greatest comic writer in the English language.
(The Wall Street Journal)

Thompson foi provavelmente o mais delirante repórter do caos numa sociedade afluente. Como Wolfe, creio que o seu talento específico reside nesse cruzamento original entre o jornalismo (reinventado) e uma tradição cómica especificamente americana. Só discordo da última frase: o maior escritor cómico de língua inglesa do século passado foi provavelmente Evelyn Waugh. [P.M.]

Escritor calado

Acabo de vir de um jantar com Luís Fernando Veríssimo. O cronista brasileiro é o que se chama em inglês «painfully shy». Amável e atento, responde porém com monossílabos e frases curtas, ou fica por um assentimento com a cabeça. E a sua mulher até nos disse que Veríssimo estava numa noite mais faladora do que é costume.

Pessoalmente, entendo e aprecio esse silêncio. Um cronista está sempre a trabalhar: tem mais é que ouvir. E, para um escritor, falar representa quase sempre uma flagrante perda de qualidade.

Escritor calado é escritor sensato. [P.M.]

Desvio de direita

Uma noite destas, fui beber uma cerveja com um liberal e um bloquista. Eu pedi Duvel. O liberal pediu Pilsener. E o bloquista pediu Bush. [P.M.]

Avis e os brasis

O mapa é esmagadoramente rosa. Aqui e ali, uma manchinha laranja. Mas, ó coisa inaudita, permanece, qual aldeia gaulesa, uma bandeirinha vermelha, o único sítio de portucale onde o Partido (com maiúscula) resiste: nem mais nem menos que Avis. Camarada de Avis, fizeste bem em ir para os brasis. [P.M.]

2/21/2005

Gonzo



Hunter S. Thompson, um dos inventores do «New Journalism», um dos renovadores da prosa americana e a epítome do escritor passado dos cornos, suicidou-se.

O «medo» e o «desprezo» levaram a melhor.

Rest in peace. [P.M.]

Lacan explicado às crianças

Ando a tentar uma tímida «reconciliação» com Jacques Lacan, sobretudo por causa de Slavoj Zizek. Nem de propósito, presenciei agora uma grande cena lacaniana.

O rapaz ia a conduzir. A rapariga disse que tinha um carro igualzinho. O rapaz era de fora e não sabia o caminho. Assim, disse à rapariga: «como o carro é igual ao teu, não preferes conduzir em vez de me dares indicações?». E assim se fez: trocaram de lugar e ela conduziu o carro dele (que era igual ao dela), indo para onde ele queria pelo caminho que ela conhecia melhor.

Macacos me mordam se isto não é um seminário do Lacan. [P.M.]

Factura

Comprei-lhe esse livro de poesia dizendo-lhe que, se ela o lesse, os seus problemas passariam. Pedi expressamente ao rapaz do balcão que escrevesse na factura livro técnico. [P.L.]

É a economia, estúpido

Certíssimo, mas também não é preciso insultar. Ando um bocado sensível. [P.L.]

Massacre

Achei curiosa uma certa linguagem de rixa usada ontem por alguns dos vencedores. Algumas pessoas do PCP falaram em «correr» com a direita. O Bloco de Esquerda, pela voz da Ana Drago, declarou que um dos seus objectivos sempre foi infligir à direita uma «derrota histórica» e nunca vista. Toda a noite se ouviram os verbos «humilhar», «arrasar», «massacrar». Não sei como é possível, numa democracia, ficar contente por «humilhar» ou «massacrar» um adversário político. A magnanimidade na vitória não é mesmo para todos. [P.L.]

Oposição 2

E há uma coisa que nos toca a nós, ou a muitos de nós que, na blogosfera e nos jornais, tratam a política de uma forma displicente, como se os políticos fossem todos sem excepção uma gente de segunda, desnecessária e até um pouco ridícula. Sei do que falo porque já dei alguma coisa para esse peditório de sobranceria. Na direita, infelizmente, essa patetice libertária começa a tornar-se demasiado frequente. Acontece que, quer queiramos quer não, Portugal precisa mesmo de governo. Por isso: menos poses, mais ideias. [P.L.]

Oposição 1

Sim, vamos para a oposição. Não se esperava outra coisa. Agora, talvez seja uma boa ideia tentarmos perceber melhor o país onde vivemos, o país que não lê blogues, colunistas ou imprensa diária, o país que já não se assusta com o fantasma esquerdista, o país que até tolera os defeitos dos políticos mas não perdoa nunca a insinceridade. [P.L.]

Estranhoamor

Fui consultar o Doutor Estranhoamor. Diagnóstico: a «relação» tem 72 % de chances de funcionar.

Dr. Love thinks that a relationship between Pedro and xxxxxxx has a reasonable chance of working out, but on the other hand, it might not. Your relationship may suffer good and bad times. If things might not be working out as you would like them to, do not hesitate to talk about it with the person involved. Spend time together, talk with each other.

Que resposta de merda. Se isto vale setenta e dois por cento, o que será uma nega? [P.M.]

Clint opus 25

Bird (1988) foi o ponto de viragem da obra de Clint Eastwood, finalmente reconhecido como «autor».

Da filmografia posterior, só não conheço The Rookie e The Bridges of Madison County. Entre os outros filmes, creio que quatro são menores (White Hunter Black Heart, Midnight in the Garden of Good and Evil, Space Cowboys, Blood Work). Que três são interessantes (Absolute Power, True Crime). Que um filme é bom (Unforgiven). E que dois filmes são magníficos (A Perfect World, Mystic River).

E Million Dollar Baby? Estava com expectativas enormes, mas as expectativas enormes são mortais. É um filme clássico, sólido, maduro, mas também explicativo, caricatural, amaneirado. Como escreveu um crítico americano, neste filme Clint Eastwood é pretensioso pretendendo que não é pretensioso.

Em Million Dollar Baby muitas cenas jogam sobretudo no efeito (e a plateia corresponde, sempre no sítio certo). O filme ganha em força mas perde em subtileza. Um bom exemplo é a personagem de Morgan Freeman, um «comentador poético» excessivamente auto-consciente, excessivamente marcado na sua função de «coro», excessivamente colado a uma imagem de marca de Freeman, reflexivo, sábio e magoado. As cenas de boxe são boas, Hillary Swank dá o litro e Clint Eastwood é o homem com mais carisma do mundo. Mas neste filme isso tudo reunido não me tocou.

É possível que se trate do velho trauma: o autor que «leu os recortes de imprensa». Ou de outro velho trauma: o espectador que leu esses mesmos recortes. [P.M.]

Cabelo

O meu cabeludo favorito aos 20 anos



O meu cabeludo favorito aos 30 anos



Como será aos 40 anos? [P.M.]

2/20/2005

A mão invisível

Nem de propósito, agora que os liberais e conservadores ficam na oposição, está finalmente operacional um projecto antigo: um blogue que reúne liberais e conservadores (e outros não-socialistas). É A Mão Invisível, uma selecção bloguista aberta a quem pretenda colaborar. Ponham nos links, se fazem favor. [P.M.]

Rescaldo 4

O Bloco de Esquerda duplicou a votação? É normalíssimo: teve o apoio do tipo que também duplicou o crédito do Montepio. [P.M.]

Rescaldo 3

«Socas», «socras», «socatres». Pelo que tenho ouvido a taxistas e empregados de café, vai ser preciso um período de transição para habituar o povo. [P.M.]

Rescaldo 2

Atenção aos blogues que vão demonstrar, nas próximas quarenta e oito horas: 1) que não sabem perder 2) que não sabem ganhar. [P.M.]

Rescaldo 1

Do ponto de vista político, estou entre os derrotados. Do ponto de vista pessoal, estou entre os, digamos, aliviados. [P.M.]

Minoria absoluta

Ao fim de três anos de bloguices, pela primeira vez vou poder reverter o argumento: «Dizes isso porque estás feito com o poder». [P.M.]

Eleições 3

As afinidades electivas não se elegem. [P.M.]

Eleições 2

Os votos ainda estão a ser contados. Sexta-feira serão anunciados os resultados da votação FdM para as «vinte melhores bandas portugueses de sempre». [P.M.]

Eleições 1

Nunca «ganhei» nenhuma eleição. Não era agora que ia começar. [P.M.]

Mudam-se os tempos

Os governos mudam, pelo menos, de quatro em quatro anos. Mas não são só os governos. Há uma nova geração de miúdas giras que hoje vota pela primeira vez. [P.L.]

2/19/2005

Aforismo

Quando não cais de muito alto nem podes exibir os joelhos. [P.M.]

Arte poética

So chucking, churning, and turning the knife
On everything (except their own life)


Morrissey, «Girl Least Likely To»

E quem não obedece a esta arte poética é evidentemente um «umbiguista», dizem, a salvo da sua própria faca. [P.M.]

Com

Não é que não acredite na paixão. Mas creio que a paixão (a paixão duradoura, perdoem o oxímoro) não se distingue da compaixão. E a compaixão é muito muito rara. [P.M.]

Reparação sexual

Perto de minha casa, dou com um cartaz do filme Kinsey, que tem a frase publicitária «Vamos falar de sexo». Por cima, alguém colou outro cartaz, mais pequeno e artesanal, que diz «Reparações tm 963434934». Tenho um filósofo nas redondezas. [P.M.]

Dia de reflexão

Estou a usar o meu dia de reflexão para reflectir sobre isto: que impacto tem no nosso imaginário o facto de uma actriz, que se estreou muito cedo e conhecemos há alguns anos, passar de um paradigma inocente para um paradigma mais sexual? É o que tem acontecido, à nossa vista, com Natalie Portman. Há nesta situação um incomodidade quase paternal, quase vergonhosa e inconfessável. Uma miúda que de repente cresceu. Que coisa mais assustadora. [P.M.]

2/16/2005

José Gil é o convidado do É A CULTURA, ESTÚPIDO!, mais logo, às 18.30h, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz. José Gil falará sobre o seu livro «Portugal Hoje: Medo de Existir», numa conversa com a jornalista Anabela Mota Ribeiro. Ricardo Araújo Pereira apresenta e, como sempre, faz o stand-up final. Poderá também ouvir as escolhas dos críticos e jornalistas residentes (desta vez em versão reduzida): José Mário Silva, Pedro Mexia, Nuno Costa Santos e Pedro Lomba.

Os encontros É A CULTURA, ESTÚPIDO!, organizados pelas Produções Fictícias, continuarão a realizar-se até Junho de 2005, uma vez por mês, sempre à quarta-feira, pelas 18.30h, no Jardim de Inverno do Teatro Municipal São Luiz.

2/14/2005

E tal

Anda um gajo a escrever poemas e não sei quê, e vai-se a ver são estes indivíduos que entram para a enciclopédia e tal. [P.M.]

Eufemismo

Uma sugestão de leitura: Charles Bukowski, Love is a Dog from Hell.



É uma frase brutal, uma frase de efeito? Ou um eufemismo? [P.M.]

Putativo

É extraordinário como toda a gente confunde o patético Dia dos Namorados com um putativo Dia do Amor. Somos todos muito cínicos, mas vivemos em plena ilusão romântica. [P.M.]

Case study

Percebeu o meu desalento e contou-me a sua história. Era sempre completamente franco com as mulheres, e por isso tinha uma vida amorosa de merda. Uma vez, estava interessado numa determinada rapariga. Não tinha grandes possibilidades, pensou. Então apostou, com uns amigos, que se lhe mentisse, a seduzia em três tempos. Assim fez e assim foi: disse tudo o que ela queria ouvir e tudo o que não sentia e a rapariga caiu-lhe nos braços de imediato. Mais tarde, porém, ele ficou farto de tanta comédia e voltou ao registo completamente franco. A relação acabou em três tempos. [P.M.]

Pedro quê

Só tenho um nome próprio. Na infância, nunca percebia logo se os meus pais estavam zangados comigo. [P.M.]

Notícias onomásticas

Depois de Cassius Clay virar islâmico e Prince uma mera sinalefa, foi a vez de Paul Gascoine mudar de nome. O jogador raçudo e indisciplinado anunciou recentemente que agora se chama «G8» (sic).

Um casal que se conheceu num chat decidiu chamar «Yahoo» (sic) ao filho.

Na Bolívia, há cada vez mais índios que, por razões obscuras, chamam aos seus filhos «Boaventura» (sic). [P.M.]

Sem contar comigo

- How many sexual partners would you say you’ve had in the past five years?
- Excluding myself?


(da série cómica Little Britain) [P.M.]

Sexo platónico

Platonic Sex é um livro (e depois um filme) sobre a indústria japonesa da pornografia. Não li o livro (nem vi o filme). Mas nenhum conceito me parece tão certeiro e adequado como «sexo platónico». Pensando bem, acho que estou fartinho de ler o livro (e sobretudo de ver o filme). [P.M.]

2/13/2005

The Misfits

Os escritores não se dividem propriamente entre «bons» e «maus». Isso fica para a chamada «posteridade» dizer.

Divido os escritores entre os meus autores e os outros. Mais uma questão de sensibilidade que de «qualidade».

Nesse sentido, Arthur Miller (1915-2005) não era um dos «meus» escritores. Mas, nesse sentido, um dos seus textos, The Misfits, é um dos «meus» textos. O argumento foi filmado em 1961 por John Huston. [P.M.]

Carlos e quem? (2)

O meu comentário sobre o casamento entre Carlos e a equina? É este, tirado de uma canção dos Libertines: And to the man who would be king / I will say only one thing / And to the man who would be king / I will say only one thing: / La la la la la la la la la la la

Espero ter sido claro. [P.M.]

Carlos e quem?

Já agora: a minha escolha para casal real não é, evidentemente, a que vem nas notícias mas a que vem no post anterior. [P.M.]

Raça ariana

A data ainda não está marcada, mas o dia do casamento de Jude Law e Sienna Miller deve ser considerado, como o nosso antigo 10 de Junho, o Dia da Raça. [P.M.]

As secções de voto estão quase a fechar. Termina à meia-noite a recepção de votos para a eleição das «vinte melhores bandas portugueses de sempre». A votação decorreu com vivacidade e normalidade, não se tendo registado desacatos. Segundo observadores do Carter Center, estas eleições serão declaradas livres e justas. Lamentamos apenas a abstenção em massa dos sunitas.

2/09/2005

Repeat

Não sei bem qual a minha canção favorita. Mas se me perguntam qual a canção que mais vezes ouvi em «repeat», não tenho grandes dúvidas: «Last Night I Dreamt That Somebody Loved Me» (The Smiths, Strangeways, Here We Come, 1987). Previsível, não é? Eu sei.



No hope, no harm / Just another false alarm. [P.M.]

Maioria

Não vou contribuir para uma «nova maioria». Eu só pertenço (com prova documental) a duas maiorias: esta e esta. [P.M.]

2/06/2005

Três semanas passaram, falta uma para o fim. Até dia 13 continua a votação para as vinte melhores bandas portuguesas de sempre. O nosso mail está lá em cima.

Caramelo (2)

A monogamia explicada em três minutos:

It won't do
to dream of caramel,
to think of cinnamon
and long for you.

It won't do
to stir a deep desire,
to fan a hidden fire
that can never burn true.

I know your name,
I know your skin,
I know the way
these things begin;


But I don't know
how I would live with myself,
what I'd forgive of myself
if you don't go.

So goodbye,
sweet appetite,
no single bite
could satisfy...

I know your name,
I know your skin,
I know the way
these things begin;

But I don't know
what I would give of myself,
how I would live with myself
if you don't go.

It won't do
to dream of caramel,
to think of cinnamon
and long
for you.


(Suzanne Vega, «Caramel», bold meu. A ouvir juntamente com «Bread and Wine», dos Cowboy Junkies. E depois: confessionário.) [P.M.]

Caramelo (1)

«A gente esquece o mal que faz pelo bem que sabe», diz uma velhota comendo (ao que parece) um caramelo.

Ora aí está uma coisa em que eu e a velhota estamos de acordo. E não tem nada a ver com caramelos. [P.M.]

Prémio understatement 2005

O antigo vocalista dos The Smiths, Morrissey, decidiu desistir de um dueto com Robbie Williams agendado para a cerimónia dos Brits Awards, que se realizam a 20 de Fevereiro.

Morrissey deveria juntar-se a Robbie Williams para interpretar «Angels», tema do ex- Take That que é candidato ao prémio de Melhor Canção britânica desde 1977.

Uma fonte da editora de Morrisey revelou que estava tudo combinado, mas o temperamental cantor acabou por achar que um dueto com Williams «não era uma boa ideia».


(lido no Diário Digital)

«Não era uma boa ideia»? Eis o understatement do ano. [P.M.]

Domingo gordo

Chega ao pé de mim e diz: »Hoje é Domingo gordo».

Talvez seja mania da perseguição, mas senti ali uma vírgula entre o «Domingo» e o «gordo». [P.M.]

2/03/2005

Lengalenga

A Cofina quer comprar a Lusumundo Media A Media Capital quer comprar a Lusumundo Media A Olivedesportos quer comprar a Lusumundo Media A Prisa quer comprar a Lusumundo Media A SGC quer comprar a Lusumundo Media A Sonaecom quer comprar a Lusumundo Media A Recoletos quer comprar a Lusumundo Media A Vocento quer comprar a Lusumundo Media Eu quero comprar a Lusomundo Media (mas não tenho dinheiro) [P.M.]

Combustão

Diane Lane ficará devido aos filmes que fez com Coppola. Mas confesso que a actriz não me sai da cabeça por causa de uma cena memorável num filme de merda de Adrian Lyne (passe a redundância). É em Unfaithful (2002): Diane regressa a casa de comboio, depois de uma queca com o amante, e entra em combustão rememorativa no meio da carruagem. Uma cena que me faz suores frios.



Sei que não acreditam, mas Diane Lane fez quarenta anos a 22 de Janeiro. [P.M.]

A revolução bloguista

Entrei na blogosfera por causa de Andrew Sullivan e do seu fenomenal blogue. Dos seus posts, links, mails, polémicas. Agora, depois de quatro anos e meio, Andrew Sullivan decidiu fazer uma pausa no blogue, que fica reduzido aos artigos de imprensa e a posts ocasionais. Diz Sullivan que precisa de descansar do blogue e de trabalhar noutros projectos. Transcrevo parte da nota de despedida, a qual explica bem a revolução bloguista:

(...) this is my fifth year of daily blogging - I was doing this when Clinton was president and Osama bin Laden was largely unknown - and I've always thought it's a good idea to quit something after around five years or so. Before it becomes a chore. Before you become numb. No, it's not a response to criticism. I'm a big boy and have provoked critics from the minute this blog started. I deserve much of what I get. And to tell you the truth, I rather enjoy the heat and will miss some of kitchen. But over two million words is a good enough mile-stone to ease up for a while. And getting through the US and Iraq elections seems to me as fair a time to take a leave as any. So I'm going to turn this into a far more occasional operation for a while. I'll keep posting when the feeling grabs me; but I'm no longer going to promise the kind of daily attention to the news that I have practised so far. I hope that after, say, nine months, I'll return to blogging full-steam with perhaps a new direction or approach to refresh the material. A little distance from the blogosphere might be helpful in that as well.

(...) I'd also like to thank my readers. I know I've maddened and delighted, inspired and infuriated, provoked and calmed, irritated and moved you. I know this because you've told me in what now amount to hundreds of thousands of emails. I've made friends with people I have never met. I've learned more from your emails than I ever would from merely reading the papers. I am immeasurably grateful for that - and for the financial support that has kept this blog alive and well. Five years ago, I wanted to prove that a lone writer could carve out a readership as influential as any political magazine, dispense with editors, and make a living. It took a while, but it happened. I also wanted to experiment with a new kind of writing-in-real-time - more free-form, colloquial, confessional and open. Others can judge whether I've achieved that. But I can surely say it's been one of the most challenging, exciting and satisfying periods of my writing life. Blogging is indeed a revolution; and I am very proud to have played a part in pioneering it and even prouder that so many have joined the blogosphere, continued it on and made it as powerful a force as it now is. I'll be back, as Arnold once put it. But after a breather and a period writing longer, more careful, more measured, less time-sensitive work. I'll miss you all badly. But this is not a farewell - just a see you later (...).


See you soon. [P.M.]

Esquerda sortida

Dia 20 vamos votar (ou não). E felizmente só temos de escolher entre cinco partidos com representação parlamentar. No Brasil, a coisa é bem mais difícil. Se um tipo é de direita, vota PFL ou talvez PMDB (ou então emigra). Mas e se é de esquerda? Como se decide entre os partidos de esquerda representados na Câmara dos Deputados?

Um comunista vota Partido Comunista Brasileiro (PCB) ou Partido Comunista do Brasil (PC do B)? E convém que o avisem que o Partido da Causa Operária (PCO) é trotskista.

Por outro lado, muitos comunistas votam (ou votavam) no Partido dos Trabalhadores (PT). Mas o PT não deve ser confundido com o Partido Trabalhista do Brasil (PT do B)nem com Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), muito menos com o Partido Trabalhista Nacional (PTN) ou com o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Sem esquecer o Partido Renovador Trabalhista Brasileiro (PRTB).

Os socialistas têm que esmiuçar as diferenças entre o Partido Socialista Brasileiro (PSB), o Partido Popular Socialista (PPS), o possivelmente mais à esquerda Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) e o talvez mais moderado Partido Socialista Cristão (PSC).

O PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro) é considerado o partido social-democrata. Mas isso é esquecer o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e o Partido Social Democrata Cristão (PSDC).

Quem quer votar simplesmente à esquerda, sem minudências, tem o Partido Progressista (PP). Ou o (inexistente) Partido Somos de Esquerda e Pronto (PS de E e P). [P.M.]

Jesus e Soledad

Agradeço aos vários blogues que se referiram simpaticamente ao meu Vida Oculta. Aproveito para explicar, a quem perguntou, a origem do título. Há quatro dias descobri que La vida oculta é também o título de um ensaio de Solelad Puértolas (Barcelona: Anagrama, 1993, Premio Anagrama). Como se não bastasse haver um Pedro Mexia espanhol. [P.M.]

2/01/2005

Galinhas

La poule est un animal qui se compose de l'éxterieur e de l'interieur. Si on enlève l'éxterieur, il reste l'interieur. Et quand on enlève l'interieur, alors on voit l'âme (Jean-Luc Godard, Vivre sa Vie, 1962). Às vezes lembro-me desta passagem. E quase acredito que se refere a galinhas. [P.M.]

The movie brats

O último Scorsese podia ter sido feito por Spielberg e, dentro do género, Coppola fez melhor. [P.M.]

Action man

O ano passado uma pessoa zangou-se comigo. Até aqui nada de extraordinário: as pessoas zangam-se comigo a toda a hora. Mas o ano passado uma pessoa zangou-se comigo por uma coisa que eu fiz, e não por uma coisa que eu escrevi. Ora isso não me acontecia desde meados dos anos 80. [P.M.]

Coração (2)

Outra estranha coincidência: um leitor deste blogue estava na mesma sala de cinema que eu [post «Coração»] e presenciou a cena descrita. Aqui fica uma correcção e mais alguns detalhes:

Estava lá, nessa mesma noite, duas filas mais à frente, a rir, Kusturica oblige, a pôr o meu stress «em desordem». Julgo que você estava umas filas atrás do jovem (...). Deixe-me fazer uns apontamentos, no entanto. E só porque me marcaram (a cada um «os seus detalhes»). O Prof. de Cardiologia estava na sala ao lado do Monumental (sala 1, julgo) e veio prontamente depois de os assistentes da sala terem percorrido as outras à procura de um médico. A conversa entre o médico e o 112 foi surreal. Parecia uma conversa de surdos. Quem estava do outro lado da linha não se apercebeu de que tinha um técnico do outro lado (e isto faz toda a diferença em termos de protocolo a seguir na chamada). Mas mais surpreendente ainda foi a sugestão do Gerente do Monumental para que continuassemos a ver o filme que estava quase no final... A vida continua. E eu e as duas amigas ao meu lado, transtornados, fomos ficando... Ainda hoje não consigo perceber porque não fui embora e voltei noutro dia para ver o filme. (MJ)

O espectador teve um ataque cardíaco no momento em que, no ecrã, uma rapariga (em risco de vida) era operada. Pararam a projecção. O homem foi assistido e levado de ambulância. Depois, com meia sala em pé, toda a gente ficou saio-não-saio, constrangida, atónita mas também com vontade de ver o filme até ao fim (faltavam dez minutos). De ver o filme por egoísmo, por autismo? De ver o filme porque «life goes on»? Sendo dos que ficaram na sala, tal como o autor deste mail, não estou nada certo que tenhamos feito bem. [P.M.]